Centro de ensino em comunidade quilombola passa por dificuldades

Primeira turma de formandos ainda não recebeu o diploma

No Maranhão estão mais de 25% das cerca de duas mil escolas em área remanescente de quilombos do país. Segundo o Inep, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, no estado existem 574 centros de ensino. Na região de Codó, estão 13 comunidades. Em uma delas, Santo Antônio dos Pretos, a 45 km de Codó, o Ceqfaam, Centro Quilombola de Alternância Ana Moreira, que atende a jovens da comunidade e dos povoados vizinhos, no ensino médio, precisa urgentemente de recursos.

O ensino médio, antes do Ceqfaam, era cursado em Codó. As famílias se mudavam para a cidade ou enviavam os filhos. O centro, fundado em 2010, foi inaugurado com muita pompa, mas, de acordo com entrevista à reportagem da Agência Brasil e da TV Brasil, Francisco Carlos da Silva, uma das lideranças da comunidade, depois disso, caiu no esquecimento.

No mesmo ano da inauguração, alunos, pais e diretores do Ceqfaam divulgaram uma carta denunciando a situação de abandono do centro de ensino. No documento, eles declaram que o governo mandou “cancelar a licitação do poço artesiano, deixando a escola sem água [alunos tomam banho e lavam roupas no rio]; faltam quase todos os equipamentos; quem faz a alimentação e a limpeza da escola são os professores e alunos, pois as duas cozinheiras, após trabalhar cinco meses sem receber os vencimentos, deixaram o serviço, e o mesmo fez o vigilante; e a energia elétrica é gambiarra”.

Em junho de 2013, a Promotoria de Justiça da Comarca de Codó ingressou com uma ação civil pública, com pedido de liminar contra o Estado do Maranhão, solicitando à Justiça que determine a regularização do fornecimento de alimentação aos alunos. Segundo o Ministério Público do Maranhão, por causa desse problema, os estudantes deixaram de ir às aulas. Além disso, a escola recebeu do Ministério da Educação computadores para instalar um laboratório de informática, mas todo material permanece encaixotado, guardado em uma sala. Solon Nóbrega, um dos professores do centro, disse que a rede elétrica não comporta a instalação dos computadores.

Apesar das dificuldades, o Ceqfaam formou a primeira turma, de 29 alunos. A cerimônia ocorreu no dia sete de março deste ano. Francimara Delgado Nunes, que concluiu o curso, falou das dificuldades enfrentadas. A estudante que ainda não recebeu o diploma.

— Minha turma foi a primeira a chegar na escola. Então para a gente se acostumar com pouca coisa que tinha na escola foi muito difícil. Teve muita dificuldade em tudo, com água, energia, até professores, tinha muita dificuldade.
O professor Solon Nóbrega ressaltou a importância do Ceqfaam para preparar os jovens da comunidade para o trabalho na área agrícola. 

— A gente não trabalha para formar técnicos que saiam daqui e vão trabalhar em grande fazendas, embora estejam preparados para isso. A intenção é que voltem para a comunidade e, o que eles aprendem aqui, possam aplicar lá. 

O professor disse ainda que as técnicas aprendidas podem aperfeiçoar o tipo de cultivo, ainda tradicional e de subsistência. 

— Aqui, a fome é muito grande, por causa desse inverno curto. A fome este ano foi muito grande, foi muito pouca a colheita.

O governo do Maranhão foi procurado pela Agência Brasil e, em nota, diz que a Seduc, Secretaria de Estado de Educação, mantém permanente diálogo com a comunidade escolar para resolver as questões pertinentes ao funcionamento da escola. “Para resolver o problema da água, está sendo licitada a construção do poço artesiano. Quanto à alimentação escolar para os alunos, o repasse financeiro é efetivado regularmente. O preparo das refeições vem sendo feito por uma moradora voluntária do projeto na Comunidade Quilombola de Santo Antonio dos Pretos”, diz. Além disso, o governo informa que mantém “regularmente” o pagamento dos professores.

 

 

 

Fonte: R7

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