Chef promove culinária de diáspora africana como forma de resgate de ancestralidade

Há mais de 17 anos, Aline Chermoula*, 36, chef de cozinha, natural de Feira de Santana, promove a culinária da diáspora africana em seus preparos. Também professora de Gastronomia, Aline resgata sua própria identidade com ingredientes como azeite dendê, cocos, farinha de milho branco, tamarindo e amendoim.

“O azeite de dendê e o leite de coco fresco, acompanham minha história de vida, assim como, o caju e sua castanha, a banana da terra, a farinha de milho branco e muitos outros ingredientes, usados por minha mãe e tias em dias de reunião de família, em São Paulo. Quando eu penso em cozinhar, automaticamente vem as receitas ancestrais que a foram passadas a mim pela minha mãe, seja o cuscuz preparado cedo pra compor o café antes de ir trabalhar, feito com farinha de milho branco, ou suco de tamarindo para refrescar o calor, até mesmo a moqueca de peixe em datas festivas”, diz.

Arquivo Pessoal

A Diáspora africana se deu entre os anos 1500 e 1800, milhões de africanas e africanos foram trazidos à força para serem escravizados no Brasil. Outros tantos foram levados para outros países das Américas, como Haiti, Colômbia, México, Venezuela e Estados Unidos, etc., e levaram consigo também sua cultura, suas organizações, suas formas de falar, cultuar, vestir e andar. As trocas ocasionadas pela mistura de vários povos deixou muitos legados. Novas formas de cozinhar e se alimentar, é um deles. 

A culinária das Américas tem como principal característica a grande diversidade de origens, justamente pela intersecção de vários povos e culturas reunidas aqui após os sequestros em massa realizados pelos colonizadores em vários países do continente africano. Estas diversidades se dão a partir das misturas de ingredientes, técnicas de preparo e conservação dos alimentos, além das influências dos nativos de cada país e dos próprios exploradores.”, explica a chef.

A chef, que também pesquisa a gastronomia da Etiópia e de Angola, afirma que sua culinária é expressão de resistência, de algo que sobrevive com muita força, apesar dos preconceitos encontrados e barreiras estabelecidas, e está resistência se manifesta através dos ingredientes o que usa para preparar seus pratos. Em uma experiência como sous chef do Bourbon Street, casa de shows em Moema, por exemplo, Aline aprendeu mais sobre a cultura gastronômica do Sul dos EUA. 

Arquivo Pessoal

Atualmente, um dos carros chefes de Aline Chermoula é o Jambalaya, uma espécie de paella típica de Nova Orleans, que leva pimentão, cebola e  aipo, componentes que não podem faltar na culinária deste estado, também frutos do mar e o toque da chef: cravo e canela. Desta cidade também vem o Gumbo, ensopado de quiabo com camarões e chouriço. Ambos trazem muita africanidade em suas composições.  

Entre os outros pratos feitos pela chef estão a Cachupa, um cozido de carnes e milho estufado, Muamba, prato típico da culinária angolana feito com galinha no dendê e os Bolinhos de Tapioca com Carne Seca e de Batata Doce com Costela. 

Na sobremesa, Aline Chermoula também resgata a criatividade aprendida com os ancestrais. Entre as iguarias está uma releitura do Acaçá, uma espécie de pamonha feita com farinha de milho branco, e o docinho africano, feito com farinha de pão, amendoim e calda de tamarindo. Outras opções são o mousse de rapadura e, para beber, Aluá, bebida feita com abacaxi fermentado.

Quando pesquiso sobre as origens desses pratos, estou resgatando memórias ancestrais e amplificando essa forma de fazer, de oferecer e de representar. Essa cozinha, que chamo diaspórica pelas Américas, é um conceito criado por mim e aos pouco tem se tornado conhecido. Por isso a definição a partir de minha visão e conhecimentos se traduz também em experimentações satisfatórias recheados de influências e riqueza de sabores dos meus antepassados.” 

Sobre Aline Chermoula

Idealizadora do empreendimento Chermoula Cultura Culinária, empresa de alimentação que atua na promoção e resgate de memória e pesquisa da comida afrocontemporânea com influências ancestrais a partir da diáspora africana pelas Américas, a chef trabalha em cozinhas há mais de 17 anos, a professora de gastronomia comandou cozinhas de espaços renomados como: Fábrica de Bares do Grupo Bar Brahma, Motel Studio A, Bourbon Street Music, Buffet Charlô, além de participar de grandes eventos como Copa das Confederações, Fórmula 1 e Copa do Mundo FIFA 2014.

Aline é idealizadora do projeto Xepa no Prato e proprietária da Chermoula Cultura Culinária desde 2006, onde organiza desde café da manhã, coffee breaks corporativos, serviços de catering e apresenta pratos autorais inspirados na culinária da Diáspora Africana pelas Américas.

*Chermoula é um sobrenome adotado pela estima a um tempero versátil utilizado no norte da África, que utiliza ervas frescas como coentro, salsa, temperos e especiarias em sua composição.

 

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