O depoimento da corajosa jornalista Adriana Caetano na Revista AzMina, em que ela conta como sofreu com o assédio sexual ao ser repórter de política no Congresso Federal, nos emocionou e nos cutucou desde a semana passada. Ela enfiou o dedo numa ferida importante: esses homens engravatados, eleitos pelo povo para defender os nossos direitos, estão usando esse privilégio não só para roubar os cofres públicos, mas para atacar a dignidade sexual das mulheres que ali trabalham. Pior: eles não são os únicos. Em um país em que homens ainda são a imensa maioria nas posições de poder, assédio moral e sexual contra mulheres são lugar comum.
Por Nana Queiroz, no HuffPost Brasil
Se o feminismo está pegando fogo nas redes, por que não estamos ainda falando abertamente sobre assédio no trabalho? Esse tema não só é urgente como ainda é um dos maiores tabus do Brasil. Nós, mulheres, somos ensinadas por uma cultura machista, desde pequenas, a sorrir e fingir que não ligamos, a nos submeter. A não usar calça justa ou saia curta para garantir que “os homens nos respeitem”. Se nos encaixamos nos padrões de beleza, entramos na profissão já com a obrigação de provar que, apesar de bonitas, somos competentes. Que distorções são essas?
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Nunca esqueci do que me disse meu primeiro chefe no jornalismo, quando eu ainda era uma estagiária cheia de ambições: “Que surpresa! Além de gostosinha, você tem um cérebro!”. Em que mundo vivemos que ele achava ter o direito de dizer uma coisa dessas? Por que eu tive medo de responder: “E a você, querido chefe, me parece que falta cérebro e sobram bolas!”
Uma pesquisa feita no ano passado pelo site Vagas.com mediu o tamanho do problema. Enquanto o assédio moral é levemente maior entre mulheres (52%) do que entre homens (48%), o sexual é quatro vezes mais comum entre elas: 80% das vítimas de abuso são do sexo feminino.
As grandes empresas e os órgãos do governo são coniventes com essa situação, pois não criam um ambiente seguro para que mulheres façam denúncias e sejam ouvidas.Não punem os agressores e não removem as vítimas de sua zona de poder.
A pesquisa ainda revelou que apenas 12,5% das vítimas de assédio fizeram denúncias, a maioria intimidada pelo risco de perder o emprego (40%), mas também pelo medo de represália (32%), a vergonha (11%) ou ainda o temor de que achassem que a culpa era sua (8%). Como Adriana, eu me calei porque não achei que adiantaria em nada denunciar. Nos calamos porque quem ia pagar o preço éramos nós: eu não seria efetivada no estágio, a Adriana, perderia o furo de reportagem. Os nossos assediadores? Esses continuariam gozando de seus bons salários e cargos de poder.
Mas querem saber de um segredo? Os chefes e as empresas precisam de nós. Já somos parcela importante do mercado de trabalho (48%) e, melhor ainda, do mercado consumidor – somos 51% da população. Melhor parte? Superamos os homens em 9 milhões entre os eleitores. E se tem uma coisa que a internet tem ensinado a nós, mulheres, é que, juntas, nós somos poderosas pra buc***! Então fica aqui o nosso convite pra que você não se cale, pra que você responda, pra que você diga basta e denuncie as situações que te desagradam nas redes sociais com a hashtag