Clássico do feminismo negro, obra de estreia de bell hooks é relançada no Brasil

E Eu Não Sou Uma Mulher? examina o impacto do sexismo e do racismo nas mulheres afro-americanas

Por Marília Moreira, Do Correio

 bell hooks- mulher idosa negra, vestindo camiseta preta e cachecol laranja- em pé com um microfone na mão
(Foto: Imagem retirada do site Correio)

Uma das maiores referências contemporâneas quando o assunto é a intersecção entre feminismo e mulheres negras, bell hooks, 67 anos, teve o seu livro de estreia relançado no Brasil mês passado, 38 anos depois da primeira publicação.

Em E Eu Não Sou Uma Mulher? Mulheres Negras e Feminismo (Record | R$ 40 | 320 págs), a autora examina o impacto do sexismo e do racismo nas mulheres negras durante a escravidão nos Estados Unidos, e parte daí para pensar a desvalorização da “mulheridade” negra, o sexismo dos homens brancos e negros, o racismo entre as feministas e os estereótipos dos quais as mulheres negras são vítimas ainda hoje.

Foto em preto e branco de belll hooks quando jovem,- mulher negra de cabelo black, vestindo camiseta larga- sentada com a mão esquerda apoiando o rosto
(Foto: Imagem retirada do site Correio)

“No período da escravidão, pessoas brancas criaram uma hierarquia social baseada em raça e sexo que posicionou homens brancos em primeiro lugar, mulheres brancas em segundo, apesar de às vezes serem colocadas na mesma posição dos homens negros, que estavam em terceiro lugar, e as mulheres negras eram as últimas”, escreve bell hooks no capítulo em que fala sobre a contínua desvalorização das mulheres negras na sociedade americana.

No prefácio à edição de 2015, na qual se baseia a tradução brasileira, a autora reconhece que a obra foi escrita quando ela e o próprio movimento feminista ainda eram jovens, e que por isso, contém falhas e imperfeições, as quais, de modo algum, diminuem o “poderoso efeito catalisador para leitores ávidos” por explorar as raízes da interseccionalidade, categoria que permite pensar múltiplos sistemas de opressão, articulando raça, gênero e classe.

Batizada como Gloria Watkins, bell hooks é um nome em homenagem a sua bisavó materna, Bell Blair Hooks. Watkins queria que seu pseudônimo fosse escrito em letras minúsculas para mudar a atenção de sua identidade para suas ideias. Sob o pseudônimo de bell hooks (grafado assim mesm, com minúsculas), a autora passeou por diferentes gêneros ao longo da vida: memórias, poemas, literatura infantil, ensaios e teoria crítica.

O primeiro rascunho de E Eu Não Sou Uma Mulher? foi escrito aos 19 anos, mas o livro só foi publicado quando ela tinha 29, depois de receber seu doutorado em inglês pela Universidade. da Califórnia, Santa Cruz. A autora atribui à relação com sua mãe, Rosa Bell, a inspiração para escrever o livro: uma mulher que incentivou as seis filhas a serem capazes de cuidar de si sem jamais dependerem de um homem.

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