Com 6 dos 15 votos do TRF4 a favor do Decreto de territórios quilombolas, julgamento é suspenso até dezembro

Caso Paiol de Telha

Até agora, oito dos 15 desembargadores pronunciaram voto, configurando resultado parcial de 6X2 pela constitucionalidade do Decreto.

Fotos: Isabela da Cruz

Por volta das 18h30 desta quinta-feira (28), desembargadores do Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre, suspenderam a sessão de julgamento da constitucionalidade do Decreto Federal 4887/03, que trata da titulação de territórios quilombolas dos territórios quilombolas. O julgamento terá continuidades no dia 19 de dezembro, quando deve sair a decisão final sobre o tema.

Até agora, oito dos 15 desembargadores pronunciaram voto, configurando resultado parcial de 6X2 pela constitucionalidade do Decreto. O quadro é favorável à continuidade da atual política de política de titulação dos territórios quilombolas no Brasil, e em especial ao processo de titulação da comunidade Paiol de Telha, localizada no município de Reserva do Iguaçu, região Centro do Paraná.

A ação em julgamento foi movida pela Cooperativa Agrária Agroindustrial, que questiona o processo administrativo do Instituto de Colonização e Reforma Agrária do Paraná – INCRA para a titulação da terra da comunidade quilombola Paiol de Telha.

O coordenador e assessor jurídico da Terra de Direitos, Fernando Prioste, fez a defesa da comunidade Paiol de Telha no julgamento. Cerca de 120 integrantes da comunidade acompanharam a sessão no TRF4, em Porto Alegre. A comunidade integra a Federação das Comunidades Quilombolas do Paraná – Fecoqui/PR, que compõe a Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas – CONAQ. Organizações quilombolas do Rio Grande Sul também acompanharão o julgamento.

Direito ao território quilomba em cheque

A Cooperativa Agrária Agroindustrial utiliza como argumento contra a titulação das terras quilombolas a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3239, ajuizada pelo DEM em 2004, contra o Decreto Federal 4887/03, que trata da titulação de territórios quilombolas. A ADI teve o primeiro julgamento no Supremo Tribunal Federal-STF em 2012, quando o Ministro Relator Cesar Peluso votou pela inconstitucionalidade. Outros dez ministros do Supremo Tribunal Federal ainda deverão votar, por isso não é possível afirmar a posição do STF acerca do tema.

Neste contexto de tramitação da ADI, o julgamento do caso Paiol de Telha ganha uma dimensão nacional. Ao julgar este caso, desembargadores federais do TRF4 consolidarão uma posição acerca do tema, o que resultará em influência direta nas 144 comunidades quilombolas da região Sul e também na decisão de Tribunais de outras regiões do país. Caso a decisão seja favorável às famílias, poderá significar avanço no processo histórico de afirmação e conquista de direito humanos dos povos tradicionais quilombolas, além de influenciar positivamente o julgamento da ADI 3239.

Constituição Federal

A titulação das terras quilombolas está prevista na Constituição Federal de 1988, no art. 68 do ADCT – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Para o coordenador da Terra de Direitos e assessor jurídico popular do caso, Fernando Prioste, apesar de previsto há 25 anos, o direito constitucional de acesso à terra para as comunidades quilombolas não é aplicado na prática.

Na avaliação de Prioste, apenas uma decisão que confirme a constitucionalidade do Decreto Federal 4887/03 é capaz de dar concretude real à Constituição. “Declarar inconstitucional o decreto mostrará à sociedade que determinados direitos constitucionalmente assegurados não se aplicarão por conveniência de uma parcela pequena da população, contrária aos direitos das comunidades quilombolas”. Para o advogado, o julgamento coloca em jogo a “força da Constituição Federal”.

Fonte: Terra de Direitos

+ sobre o tema

Boletim Eletrônico Tempo Em Curso

  Prezado companheiro e prezada companheira, Informo que o terceiro número...

Projetos que valorizam identidade negra são premiados no Rio

Evento, com a presença do ministro da Igualdade Racial,...

para lembrar

Defensoria Pública da Bahia promove 1ª posse popular de novos defensores públicos

Do Correio Nagô  Defensoria Pública da Bahia promove 1ª posse...

Evento em Maceió irá debater cultura negra nos municípios alagoanos

Encontro terá palestras e oficinas sobre afirmação racial. Participação...

As experiências do “SER NEGRO” na sociedade brasileira

Compelido a escrever este texto muitas foram as temáticas...
spot_imgspot_img

Entre rios e matas: uma comunidade de negros em Gurupá (PA)

O que você sabe sobre a história da população negra na Amazônia? Angulado por essa questão, neste artigo, resultado da pesquisa desenvolvida durante o...

Primeira médica de quilombo baiano criou cursinho pré-vestibular

"Eu era um ponto preto em uma folha branca", ouvia Marina Barbosa, 32, de um professor durante a graduação em medicina. Hoje formada pela UFBA...

Grito dos Excluídos em Salvador tem pedidos por justiça e proteção aos povos preto e quilombola

A 29ª edição do Grito dos Excluídos reuniu diversos grupos em Salvador, nesta quinta-feira (7), para pedir justiça e proteção para o povo negro e...
-+=