Com restaurante típico em SP, camaronesa quer ensinar a brasileiros história da África

Quando chegou à capital paulista, Melanito Biyouha se assustou com a falta de conhecimento sobre seu continente de origem.

Por Lívia Machado, G1

Melanito considera a Avenida Paulista um dos lugares mais bonitos de São Paulo (Foto: Flávio Moraes/G1)

O cardápio é em português e inglês, mas os pedidos seguem feitos em francês. Melanito Biyouha, de 46 anos, transformou um pequeno restaurante no Centro de São Paulo em uma casa de cultura – não apenas pela decoração e pratos típicos. Há nove anos no local, a camaronesa acredita que consegue, com comida e uma boa conversa, diminuir a ignorância do brasileiro com relação a seu continente de origem, a África.

No aniversário de São Paulo, o G1 apresenta as histórias de cinco mulheres que fazem a vida na cidade e ajudam, de alguma forma, a transformar a realidade de quem vive nela. Conheça os perfis

“Quando eu cheguei aqui, apensar de ser um país que tem um pé grande na África, o brasileiro não sabe nada da África. Às vezes as pessoas te fazem uma pergunta que você se assusta. Esse é o trabalho que fazemos no nosso restaurante. Ensinamos um pouquinho da história da África, da gastronomia. Qualquer pergunta para nós é bem-vinda”, explica

Melanito trabalhava em um banco na capital do Camarões quando foi convidada por um parente para passar uma temporada no Brasil. Veio na intenção de ficar 30 dias e nunca mais retornou. Residiu inicialmente em Brasília, onde seu tio morava, e trabalhou como cabeleireira em um salão especializado em penteados africanos, até formar clientela e atender em domicílio.

Quatro anos depois, em uma viagem turística para São Paulo, não encontrou restaurantes especializados em comida africana e viu em tal ausência um futuro possivelmente promissor.

“Não acreditei que o Brasil, sendo um país que tem um número grande de descendentes africanos, não tinha uma representação na gastronomia. Aí que nasceu o projeto. Não era preparado, tudo foi de um dia para o outro.”

No caso, de um ano para o outro. Em fevereiro de 2008, criou quatro pratos camaroneses com as receitas de sua família, batizou o espaço com o diminutivo de seu nome e abriu as portas do Biyou’z.

“A cozinha na nossa cultura é como se fosse uma obrigação. A gente começa a cozinhar desde criança. Comecei com dois funcionários, agora são oito: seis na cozinha e o resto no atendimento.”

Desde a fundação, a camaronesa emprega, preferencialmente, conterrâneos. O objetivo, segundo ela, é servir como ponto de apoio aos imigrantes e refugiados que chegam à capital paulista.
“A intenção é de ajudar. Eu tento sentir um pouquinho o sofrimento dos outros, o que eu não passei. Eu cheguei numa casa, fui bem atendida. Cheguei em um bairro nobre de Brasília. E quem vem agora não tem essa chance. Já tive funcionários brasileiros, mas o coração bate um pouco mais forte para o outro lado.”

Prestes a completar uma década à frente das panelas, ela planeja ampliar seu modelo de negócio e avançar para além do Centro. “Meu sonho é de conseguir ter um tempo para mim e poder crescer um pouco mais.” Para onde deseja avançar? “Na Avenida Paulista, por que não?”, responde, rindo.

+ sobre o tema

Bíblia católica apresenta o “Jesus negro”

Objetivo seria tornar a Palavra de Deus mais acessível...

Sua Majestade o Samba

O termo samba, desde o século XVIII, já era...

para lembrar

Nós, Madalenas: uma palavra pelo Feminismo

Maria Ribeiro é a fotográfa responsável por transformar em...

Um encontro familiar em A Outra África

Enfileiradas, quatro réplicas dos profetas esculpidos por Aleijadinho dão...
spot_imgspot_img

Carnaval: sambas sobre religiões de matriz africana ‘não são coincidência, mas um movimento’, diz compositor da Tuiuti

A presença maciça de sambas-enredo com temáticas de religiões de matriz africana no Carnaval carioca deste ano, não é uma mera “coincidência”, mas sim “um...

Carnaval em Salvador comemora os 40 anos da axé music

O auge do Axé como fenômeno do mercado fonográfico ocorreu paralelamente à tensão com a música independente baiana. Artistas que não se identificavam parcial ou...

Racionais MC’s recebem título de doutor honoris causa da Unicamp

Nesta quinta-feira (6), o grupo de rap Racionais MC’s recebeu o título de doutor honoris causa na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A honraria...
-+=