Combate ao racismo deve ser prioridade de todos

Investimento privado pode construir pacto intersetorial de enfrentamento

Mais uma vez o país se vê diante de dois tristes e inaceitáveis episódios de violência policial contra a população negra. O massacre na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, e o assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, em Sergipe, obrigam a sociedade brasileira a confrontar-se novamente com a brutalidade e onipresença do racismo em nossas instituições.

Quando intelectuais como Silvio Almeida afirmam que o racismo é estrutural, isso significa que o preconceito e a discriminação alicerçados na ideia de raça permeiam todos os aspectos de nossa vida social. Encarar o racismo exige que todos os setores se empenhem em reconhecer e reparar os mecanismos, comportamentos e atitudes que perpetuam desigualdades raciais. Precisamos enfrentá-lo em todos os campos, como fizemos de forma muito assertiva ao implantar as cotas nas universidades públicas.

O investimento social privado, composto pelos institutos, fundações e setores de responsabilidade social de empresas, tem papel importante nesse pacto coletivo. Apesar dos números ainda tímidos, há caminhos que partem do apoio direto a lideranças negras, com plataformas de ações colaborativas, à criação de metodologias para influenciar a atuação do Estado.

Sabemos que há forte sub-representação de pessoas negras em posições de liderança, seja no setor público ou privado. Reverter esse quadro requer o investimento nas trajetórias de indivíduos negros, garantindo acesso à formação de qualidade ao longo de suas carreiras. A Plataforma Alas, lançada em 2021, busca alavancar recursos continuamente para financiar esses investimentos e já aportou mais de R$ 5 milhões na formação de quase 300 lideranças negras.

Também podemos apoiar o Estado para que incorpore de forma mais intensa a agenda da igualdade racial como eixo transversal nas políticas públicas. Os países da OCDE já trabalham com orçamentos sensíveis a gênero, indicando como a vida das mulheres será impactada pelas várias políticas previstas no orçamento público. A mesma metodologia pode ser estendida às questões raciais. O “Guia para Orçamentos Sensíveis a Gênero e Raça” traz ferramentas práticas para gestores públicos identificarem e rotularem no orçamento os aspectos relevantes do ponto de vista racial e de gênero.

Ao adotarem essa metodologia, os governos devem prever ações direcionadas para corrigir desigualdades de raça, mas também se tornam mais capazes de refletir sobre como as políticas públicas tidas como universais impactam de forma diferente brancos e negros. A política de segurança pública, por exemplo, existe para garantir a proteção de todos os cidadãos. Mas é inegável que esse não tem sido seu resultado para a população negra e periférica deste país.

Esses são exemplos de ações que o investimento social privado pode adotar na construção de um pacto intersetorial de enfrentamento do racismo. Fundamental destacar que esse deve ser um processo coletivo e colaborativo e não pode desconsiderar o percurso histórico do movimento negro. É nosso papel ser aliado nessa luta.

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