Combate à Hipertensão Arterial, e eu uma jovem hipertensa tenho um recado pra você

26 de Abril foi estabelecido como dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial

Ué, pra quê eu vou querer saber sobre isso?

Hipertensão não era coisa de gente idosa?

Por Tâmillys Lírio para o Portal Geledés 

Não necessariamente! Esse agravo tem acometido cada vez mais as pessoas jovens e principalmente negras e esse papo serve de alerta!

Eu tenho 26 anos e me descobri hipertensa aos 24, todos que ouvem essa notícia se assustam. Sou uma jovem psicóloga, tenho um peso considerado “adequado” para a minha altura e uma rotina como a de muitos de vocês, estressante, sendo este um dos fatores desencadeadores do agravo.

Mas o motivo principal considerado pelo cardiologista, foi meu histórico familiar pesado no assunto hipertensão. Perdi meu pai num acidente vascular hemorrágico fatal, quando ele tinha apenas 38 anos, meus avós também eram hipertensos e praticamente todos meus tios paternos são hipertensos…

Mas mesmo assim, poxa, quase todo mundo que conheço tem um parente hipertenso, mas por quê aconteceu tão cedo comigo? Mesmo sabendo da minha história familiar, eu fiquei intrigada. Perguntei ao meu médico e ele reconheceu. A prevalência de hipertensão é maior em pessoas negras do que em pessoas não negras! E em mulheres negras a pressão alta é ainda mais violenta e mortal. Para ele não restavam dúvidas que, minha história e minhas condições sociais foram fatídicas no diagnóstico, uma jovem negra, fruto da periferia e cardíaca.

Parando pra pensar, qual é a realidade da juventude negra e de periferia no país? É de correria, violências diversas, jornadas duplas ou triplas desde muito cedo, alimentação ruim e poucas horas de sono. Não restam dúvidas que estamos despontando nos piores indicadores sociais e sofremos direta e indiretamente, com o impacto do grave problema do extermínio da nossa juventude. Estamos muito mais expostos aos riscos, basta olhar a comparação de renda, de escolaridade e de acesso à saúde. Porém esta não é uma questão apenas socioeconômica, pois sabemos que a correria é grande para muitos não negros também. Acontece que no nosso caso, temos uma pedra a mais na balança, o racismo e 3 séculos de escravidão marcaram negativamente nossas características genéticas.

Quê que RACISMO tem a ver com isso Tamillys? Tá locona, é?

Tem tudo a ver! Ou você achou que centenas de anos de condições subumanas não teriam consequências nos nossos corpos?

Num resumo bem raso do que aconteceu, nossos ancestrais foram sequestrados, arrancados de seus lares, jogados em navios imundos sem água ou comida, acorrentados em ambientes fechados e muitos não resistiam durante a longa viagem por desidratação, infecção, pneumonia, entre outras mazelas, sem falar naqueles que se suicidavam.

Os que sobreviviam eram conduzidos a trabalhos pesados, com jornadas infindáveis, eram submetidos à torturas, mutilações e estupros.

O quê comiam e bebiam? O que sobrava, alimentos que não eram suficientes para manter corpos que faziam tanto esforço, água suja numa quantidade ínfima…

Resultado desse filme de horror? Aqueles negros e negras que conseguiam sobreviver às torturas físicas, psicológicas e aos asassinatos, tinham expectativa de vida de aproximadamente 35 anos, retendo uma quantidade muito maior sódio no organismo que o suportável.

E senhoras e senhores, este é o grande coringa, o reflexo desses tempos não muito distantes, somos mais sensíveis ao sódio, retemos mais líquidos e nossos batimentos cardíacos não desaceleram nem quando dormimos. Racismo mata por hipertensão também!

Você que lê esse texto, pode não estar se ligando muito, mas hipertensão é um agravo silencioso e pode passar desapercebido.

Mas me diga aqui, quantas vezes VOCÊ JÁ PEDIU PARA AFERIREM SUA PRESSÃO? Você se hidrata com constância, se alimenta bem?

Sem ficar na paranóia, mas talvez aquela dor de cabeça constante pode ser um alerta!

Somos da geração do macarrão instantâneo, dos refrigerantes, dos salgadinhos e dos condimentos, comidas rápidas e baratas, engolidas entre um corre e outro.

A soma de opressões como racismo, machismo e lgbtfobia que empurram nossa população para cotidianos estressantes e violentos, que nos matam de dentro pra fora. O extermínio também acontece assim, na SAÚDE MENTAL. É só estar numa roda de conversa, principalmente com pessoas negras, ativistas, artistas entre outros, para ouvir frases recorrentes: “Estou cansada”, “estou adoecida”, “quero desistir”, e como frutos forçados a amadurecer, mostramos sorrisos e escondemos nossa dor. Toda essa tensão tem consequências.

Na foto são alguns dos remédios que tomo diariamente, caros e pouco acessíveis, são um grande gasto mensal. Outro aspecto ignorado pela grande maioria dos médicos cardiologistas é a pouca eficácia em negros, de remédios baratos e muito receitados, como o captopril. A grande questão é que os remédios modernos e eficazes, como os que tomo, são caros e não estão disponíveis no SUS. É fundamental também saber como andam os seus rins, pois a insuficiência renal e outras anomalias renais também estão ligadas à pressão alta.

Desabafando um pouco fico temerosa, tento me poupar ao máximo dos estresses mas não é fácil. Tenho vontade de ter filhos, mas medo por ter esse fator de risco que mata muitas mulheres durante a gestação e no parto, também temos os impactos renais dos medicamentos. Mas não é o fim, também não se desespere caso descubra a hipertensão! É importante ressaltar que a tecnologia e os avanços científicos proporcionam uma vida de ritmo normal para quem é hipertenso, basta cuidar um pouco mais da alimentação, hidratação e buscar se exercitar também faz a diferença!

Eu poderia escrever muito mais sobre várias coisas, mas me despeço pedindo que possamos nos acolher e cuidar mais, que cuidemos dentro de nossas limitações, da nossa alimentação e hidratação, além de estar atentos aos sinais que nosso corpo e mente emitem. Se amem, se olhem e que possamos viver, envelhecer e colher os frutos das mudanças que plantamos hoje!

#JovemNegroVivo #VamosfalarsobreHipertensão #CuideSe #HidrateSe

 

Tâmillys Lírio – Psicóloga –  presidenta da NBR Nação Basquete de Rua de Campos, RJ

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