Quando o Alexandre Garcia abre a boca, quem fala por ele é o Figueiredo. Contra as cotas, o jornalista da TV Globo disse que passar assim é “humilhação”.
Por Mailson Ramos via Guest Post para o Portal Geledés
Alexandre Garcia vive no passado da ditadura de onde converge a base de todos os seus comentários, na TV Globo. E só mesmo quem foi assessor de comunicação de um ditador pode reagir contra a política de cotas. Não que as cotas não possam ser questionadas, mas há, no comentário deste jornalista um peremptório cunho elitista e conservador.
O que significa mérito? É vergonhoso entrar numa universidade através das cotas? Um estudante aprovado em regime de cotas não será um bom profissional ou não saberáconcorrer no mercado? Não estará preparado por não ter mérito? E onde está o mérito do não acesso à universidade? Que critérios o Alexandre Garcia utilizou para tecer a análise de que as políticas de cotas são uma “humilhação”?
O Milton, filho do carroceiro, exemplificado por Garcia, viveu num tempo em que pobre não pisava numa universidade nem mesmo para conhecê-la. E o acesso restrito concedeu aos filhos das famílias mais humildes um futuro dedicado às chances que não teve; à irremediável frustração de não ter sido um diretor de rádio, um engenheiro, um advogado. E se não houve chance, paciência, o mundo não é para todos.
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Assim pensam os adversários dos governos petistas. Porque só entendem o Brasil sob a perspectiva da meritocracia. Se você nasceu negro, pobre e numa periferia, deve lutar para alcançar seus objetivos; e se não alcança-los, deve entender que a vida é assim mesmo. Ou seja, o mundo foi feito para as famílias ricas e as famílias pobres devem entender que jamais as alcançará.
Desde que ocorreram mudanças na educação superior, o Brasil tem dado um exemplo de como as coisas podem ser mais justas. De como o filho do açougueiro pode ser tão inteligente quanto o filho do dono do frigorífico. A universidade, ainda hoje, tem condições de horizontalizar a capacidade de alunos advindos de diferentes estágios de aprendizado. E isso é um desafio para um país com as dimensões e desigualdades sociais como o Brasil.
Na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), onde estudei, havia cotistas com um grau de sabedoria e inteligência que superaria qualquer estudante mais preparado. Acontece que o jovem da periferia está condicionado a encarar o mundo sempre como um desafio. Não é o auxílio das cotas que o fará chegar ao fim do curso com excelentes notas; e conheci cotistas que não saíram da universidade sem receber homenagens; isso é mais meritório do que concorrer abertamente para mostrar-se desafiador.
Alexandre Garcia não acredita que exista racismo no Brasil. Por isso não concorda com as cotas. Erra duplamente e diante de milhões de brasileiros. Querer incutir vergonha ou humilhação em todos aqueles que são cotistas ou já foram é uma atitude muito perversa. O Brasil precisa pensar no acesso de jovens periféricos e marginalizados à academia. Talvez seja a única chance que eles tenham de lutar contra este sistema que por si já é arrasador e ainda encontra eco na voz da elite. Porque é só isso que a TV Globo e Alexandre Garcia representam.