Creio que o imperativo moral da nossa geração de pais e mães é criar filhas e filhos antirracistas. Não é uma tarefa fácil, principalmente porque somos bastante iletrados sobre o tema. Também porque, depois de séculos de genocídio, silenciamento e exclusão num dos países mais desiguais do mundo, somos insensíveis ao estrondoso barulho do racismo estrutural. Frente a esses desafios, como criar efetivamente filhos antirracistas?
Antes de mais nada, precisamos entender o que é ser antirracista; e a necessidade de falar proativamente sobre o tema com nossos filhos —uma questão sobre a qual eu mesma, como mãe negra de filhos de pele clara, até recentemente tinha dúvidas. Começo pelo segundo ponto, e spoiler: os dados nos asseguram que é melhor falar, e logo.
Talvez seja um choque, mas lá vai: segundo a Academia Americana de Pediatria (AAP), crianças começam a aprender sobre questões raciais desde muito cedo com seus mais influentes professores, os pais, num processo muito similar ao do aprendizado linguístico. Estudos mostram que as crianças conseguem distinguir características raciais e de gênero antes mesmo de aprender a andar. Entre 2 e 4 anos, internalizam vieses raciais. Num estudo com crianças de 3 anos, por exemplo, pesquisadores mostraram fotos de diversas crianças e perguntaram de quem elas queriam ser amigas; 1/3 das crianças negras disseram que queriam ser amigas apenas das crianças negras, ao passo que 86% das crianças brancas disseram querer ser amigas apenas das iguais a elas. Segundo um outro estudo, aos 6 anos elas tanto já entendem que há uma hierarquia racial, como podem elas mesmas já se engajarem em estereótipos racistas diretos.