Há mais de sete décadas, no dia 18 de maio de 1950, era criado o Conselho Nacional de Mulheres Negras, uma organização pioneira do feminismo negro. Focado principalmente na luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas, a organização promovia também o desenvolvimento profissional e o cuidado à infância.
O Conselho foi fundado no Rio de Janeiro (RJ) por mulheres que faziam parte do Teatro Experimental do Negro (TEN), companhia teatral idealizada por Abdias Nascimento que promovia a inserção de negros na arte, na militancia e na educação, oferecendo, por exemplo, cursos de alfabetização.
Arinda Serafim, Elza de Souza, Marina Gonçalves, Ruth de Souza, Ilena Teixeira, Neusa Paladino, Maria d’Aparecida, Mercedes Baptista e Agostinha Reis são alguns dos nomes de mulheres que fizeram parte da história do TEN.
Na dissertação de mestrado “Femismo Negro em Contrução: a Organização do Movimento de Mulheres Negras do Rio de Janeiro”, a doutora em Politica Social Rosália Lemos aponta que o Conselho Nacional de Mulheres Negras foi a “primeira forma de organização autônoma de mulheres negras, originada no interior de uma instituição mista, contemplando questões específicas das mulheres negras”.

A organização foi criada a partir do Departamento Feminio do TEN e idealizado pela assistente social e jornalista Maria de Lourdes Vale Nascimento. No jornal “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro”, outro braço do TEN, ela liderou a coluna “Fala Mulher”. Na edição de março e abril de 1950, a jornalista escreveu ao público que em breve seria criado o Conselho Nacional de Mulheres Negras.
“O trabalho do Conselho será uma tarefa árdua a necessitar imperiosamente da colaboração de toda mulher, preta ou branca. Precisamos ser solidariamente unidas em torno desse objetivo de nos valorizarmos, de impor a nossa capacidade de trabalhar e realizar algo em benefício geral. Somente assim teremos possibilidade de vitória”, escreveu.
Na mesma coluna, Maria informa que entre as principais atuações da organização estariam a promoção do ensino profissionalizante, amparo às trabalhadoras domésticas, proteção e educação na infância. Foram oferecidas, por exemplo, atividades de ballet infantil, teatro infantil, corte e costura, tricot e educação física.
“O que mais endossa o trabalho do Conselho Nacional de Mulheres Negras vem a ser a movimentação de direitos das empregadas domésticas, entendendo que na década de 50 a a maior parte das mulheres negras ainda estavam nesse trabalho doméstico, então surge também essa necessidade de oficializar esse ofício”, explica Segundo Pollyanna Fabrini, mestre em Ciências Sociais e pesquisadora associada do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros na Universidade Federal de Uberlândia.
No mesmo ano, também dentro do TEN, foi criada a Associação das Empregadas Domésticas, que assim como o Conselho, foi presidido por Maria de Lourdes Vale Nascimento. Na época, a pauta das trabalhadoras domésticas foi muito encampada também por Laudelina de Campos Melo.
Diante das poucas informações encontradas e disseminadas sobre mulheres negras na história, em específico sobre o Conselho, Pollyana Fabrini reflete: “na minha trajetória acadêmica, eu nunca ouvi falar dessas mulheres, entendemos que há um apagamento epistêmico na própria acadêmica, não se fala dessas mulheres negras”, e acrescenta que o resgate dessas figuras tem sido feito, principalmente, por outras pesquisadoras negras.