Um corpo estava com tiros na cabeça e outro com mãos amarradas.
Familiares de jovens desaparecidos foram ao IML identificar vítimas.
Por Tatiana Santiago e Tahiane Stochero, do G1
O ouvidor das polícias do estado de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves, disse que há indícios de extermínio nos cinco corpos encontrados na mata fechada em Mogi das Cruzes no domingo (6). A suspeita é que os corpos são dos cinco jovens desaparecidos há 15 dias em Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo.
“Fica claro inclusive que foi execução porque um deles estava amarrado”, afirmou o ouvidor na manhã desta segunda (7) na porta do IML Central, para onde os corpos foram levados. As vítimas estavam perto da Estrada Taquarussu, em Mogi das Cruzes.
Além disso, a perícia detectou, segundo o ouvidor, que alguns corpos possuem tiros de armas de fogo. Um deles, possivelmente do cadeirante, estava sem cabeça. “Existem tiros, um cadáver com dois tiros na cabeça, outro cadáver com vários fragmentos, a gente não sabe se é perfuração ou se é tiros de bala”. A perícia ainda não divulgou o tipo de arma utilizada.
Os familiares dos jovens desaparecidos estavam no IML por volta das 11h para ajudar a identificar os corpos, que têm queimaduras e avançado estado de decomposição.
O fato de uma das vítimas usar uma fralda geriárica e ter sinais de uma cirurgia na coluna faz a polícia acreditar que se trata do grupo desaparecido, já que um dos jovens, que era cadeirante.
Outro indício de que se trata do grupo desaparecido em outubro é o fato de que uma das vítimas tinha uma prótese na perna. Um dos jovens, Caíque Henrique Machado, tinha uma prótese na tíbia, segundo relatos de familiares ao ouvidor.
O ouvidor disse não descartar a possibilidade de participação policial no crime, mas que prefere aguardar o resultado das investigações. “Toda a possibilidade ainda existe e com os exames que serão feitos os indícios vão aparecer ou vão desaparecer, mas começaram agora”.
Um dos indícios da suposta participação policial é uma mensagem enviada por uma das vítimas, Jonathan Moreira Ferreira, de 18 anos. Pelo WhatsApp, ele relatou a uma amiga antes de sumir ter sofrido “enquadro” e “esculacho” da polícia. O G1 teve acesso à gravação.
Parentes dos desaparecidos dizem que policiais militares agiram em represália pelos assassinatos de um policial e um guarda-civil em setembro.
O vice-presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Luiz Carlos Santos, diz que vai pedir a aceleração das investigações policiais sobre o caso. “Esses sinais de execução deixam claro o que aconteceu desde o início da primeira mensagem até o fato de ter achado esses corpos”. O Condepe também solicitou à Corregedoria da Polícia Militar se há localização de GPSs de viaturas circulando na região em que os jovens desapareceram.
De acordo com Santos, os jovens desaparecidos teriam sido atraídos para uma emboscada já que o perfil das garotas com quem teriam marcado um encontro foram deletados das redes sociais na internet. “Nós vamos tentar rastrear de onde veio esse Facebook”.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, afirmou nesta segunda que há três linhas de investigação sobre o caso. Um dos pontos a ser investigado é a presença de cartuchos de pistola .40, uma das armas usadas pela Polícia Militar.
“Pode investigar sim (o envolvimento de policiais) porque tivemos lá a apreensão de cartuchos que são de ponto 40 e estamos verificando se eles pertencem a algum lote adquirido por organismo policial aqui de São Paulo e verificando, se positiva esta informação, se não houve notícia de extravio de munição, porque isso ocorre às vezes”, diz.
Desaparecimento
Os cinco rapazes iam para uma festa num sítio em Ribeirão Pires no dia 21 de outubro e não foram mais vistos. Familiares fizeram uma denúncia sobre o sumiço do grupo à Secretaria de Direitos Humanos e Defesa de Cidadania da Prefeitura de São Paulo.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, a Polícia Militar encontrou os corpos após receber um chamado no 190 indicando a localização. “Uma equipe do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) está no local. Os corpos estão em estado avançado de decomposição e serão submetidos a exames para identificação. Mais detalhes não podem ser divulgados para não atrapalhar os trabalhos”, informou a secretaria em nota.
Quatro dos cinco rapazes desaparecidos quando iam a festa na Grande São Paulo (Foto: Montagem/Reprodução/Polícia Civil de São Paulo)