Corregedoria vai investigar PMs da Rota suspeitos de homicídio e de sumiço de jovens

Policiais militares da Rota são investigados sob suspeita de participação na morte de um jovem e no desaparecimento de outro – Foto: Reprodução

Luciano Meneses, 22 anos, está desaparecido; Bruno Rocha, 20, foi encontrado morto. Para moradores do Parque Bristol, zona sul de SP, policiais militares cometeram crimes para vingar morte de soldado da PM

por  na Ponte

A Corregedoria (órgão fiscalizador) da Polícia Militar de São Paulo passou a investigar nesta quinta (13/11) o assassinato de Bruno Lúcio da Rocha, de 20 anos, e o desaparecimento de Luciano Santos Meneses, 22 anos, entre a noite de 18 e 19 de outubro, na região do Parque Bristol, zona sul da cidade de São Paulo.

Integrantes da Rota, suposta tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, são investigados sob a suspeita de participação no desaparecimento forçado de Meneses e na morte de Rocha. A ordem para o início das investigações da Corregedoria da PM partiu do comando-geral da corporação e da Secretaria da Segurança Pública.

Os crimes, segundo moradores da região do Parque Bristol, foram uma retaliação da polícia pelo assassinato do soldado Edson Santos Silva, de 30 anos, no bairro.

Os moradores do Parque Bristol, Jardim São Savério, Jardim Celeste, Vila Cristina e Vila Paz também relatam, que após a morte do PM Silva, várias violações contra os direitos humanos têm sido cometidas pela Polícia Militar nos cinco bairros da periferia.

Não há indício de que os dois jovens tenham ligação com a morte do soldado Silva. Com medo de se tornarem alvos dos PMs, os moradores do Parque Bristol e bairros vizinhos se recusam a dar entrevista sobre os abusos cometidos pelos policiais na região.

Em um documento entregue na terça-feira (11/11) ao secretário da Segurança Pública da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), Fernando Grella Vieira, 11 entidades ligadas aos moradores do Parque Bristol e a movimento sociais relataram o clima de terror imposto pela Polícia Militar na região após a morte do soldado Silva. “Na prática, policiais decidiram fazer Justiça com as próprias mãos”, afirmam as entidades e moradores.

No documento, moradores e entidades relataram, por exemplo, que os PMs responsáveis pelo patrulhamento da região têm os ameaçado dizendo que “ninguém terá Natal ou Ano-Novo”.

Casas têm sido invadidas por PMs à noite, sem qualquer amparo legal, segundo as denúncias, e seus habitantes são ameaçados de morte e têm seus móveis destruídos. Os moradores também relataram casos de agressões físicas.

“A moradora T. relata que seu filho, L., foi abordado por policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e liberado, porém, posteriormente sua casa foi invadida pelos mesmos policiais que quebraram seu guarda-roupas, agrediram L. de diversas formas, incluindo tapas, choques e sufocamentos com saco plástico. Teria sido ameaçado de morte e acusado de tráfico de drogas, teria confessado sob tortura”, diz trecho do documento entregue ao secretário Grella Vieira.

“Diversos moradores narram que os policiais se dirigem à comunidade com intuito de ameaçar e invadir residências. Crianças relatam que viram seus amigos sendo ameaçados por policiais. Além disso, uma ameaça de que ninguém na comunidade terá Natal ou Ano Novo foi feita por policiais, causando grande comoção entre os moradores”, continua o documento sobre o terror imposto pelos PMs.

IML

Bruno Rocha foi encontrado por parentes três dias após seu sumiço. Seu corpo estava no IML (Instituto Médico Legal) depois de ter sido levado por policiais militares, ferido a tiros, para o Hospital Artur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara, também na zona sul paulistana e perto do Parque Bristol.

O desaparecimento de Meneses é investigado pelo 83º Distrito Policial (Parque Bristol) e pela delegacia especializada em desaparecimentos do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), ambos da Polícia Civil. Desde ontem, também pela Corregedoria da PM.

Morte do PM

Silva era soldado da Rocam (Rondas Ostensivas com o Apoio de Motocicletas) e, na noite de 18 de outubro, patrulhava a rua José Pereira Cruz com outros dois PMs, também em suas motocicletas.

Ao perceber que os três PMs da Rocam iam pará-los para uma blitz, um grupo de homens correu. Um deles deixou uma mochila cair. Enquanto seus dois companheiros perseguiam o grupo, Silva parou para revistar a bolsa. Nesse momento um criminoso se aproximou do soldado, por trás, e atirou três vezes contra ele. Um o acertou na nuca.

O soldado Silva havia encontrado droga e um telefone celular na bolsa abandonada. Socorrido pelos colegas, o PM, que trabalhava havia oito anos na corporação, morreu no hospital.

Logo que a morte do soldado Silva foi confirmada, PMs do 46º Batalhão (o mesmo do policial morto) e várias equipes da Rota começaram operações em toda a região do Parque Bristol.

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