As crianças das favelas têm algo para comemorar?

Davison Coutinho, em artigo para o Jornal do Brasil, questiona o que há para ser comemorado pelas crianças moradores de favelas neste Dia das Crianças. Ele apresenta dados da alta evasão escolar nas favelas, critica a estrutura das escolas e também da saúde pública: “Essa é a realidade de nossas favelas, esse é o dia a dia das nossas crianças. Enquanto não tivermos uma política que pense na inclusão delas, teremos sempre a violência presente nas favelas. Não adianta remediar depois que o problema está pronto, a solução precisa ser na base”

O colunista do Jornal do Brasil Davison Coutinho escreveu artigo sobre a difícil realidade das crianças nas favelas, questionando se, para elas, há o que comemorar neste Dia das Crianças. Coutinho apresenta dados da alta evasão escolar nas favelas, e critica a estrutura das escolas e também da saúde pública, além de atentar para a violência no cotidiano das favelas: “Essa é a realidade de nossas favelas, esse é o dia a dia das nossas crianças. Enquanto não tivermos uma política que pense na inclusão delas, teremos sempre a violência presente nas favelas. Não adianta remediar depois que o problema está pronto, a solução precisa ser na base”.

Por *Davison Coutinho, para o Jornal do Brasil

Dia das Crianças nas favelas. O que comemorar?

Evasão escolar nas favelas do Rio de Janeiro revelam a violência que vivemos na cidade

Mais um Dia das Crianças se aproxima. Na televisão os comerciais e propagandas já tomam conta. No entanto, o que as crianças moradoras de favela têm para comemorar?

A cada dia a violência recrudesce nas favelas. É cada vez mais comum assistir a filhos perdendo seus pais, e o futuro dessa criança fica cada vez mais comprometido. Nas propagandas, ele enxerga e vislumbra os brinquedos que sonha, mas desde cedo aprende que aquele mundo não lhe pertence.

Assim, os pais o incentivam a buscar o futuro na escola mas, infelizmente, a qualidade do ensino publico é péssima. Quando não está em greve, não se tem todos os tempos de aula, sempre está com algum problema, dificilmente funciona bem. As crianças e adolescentes estão saindo da escola sem nem mesmo terem sido alfabetizados. Qual a possibilidade desse futuro adulto ingressar no ensino superior ou concorrer a um emprego com outro que teve oportunidades melhores.

A escola não é sedutora e, muitas vezes, a falta de estrutura familiar e os problemas da casa impedem essa criança de estudar. Como resultado, temos um número assustador de evasão escolar. De acordo com o levantamento feito pela Casa Fluminense com base no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud 2013), a média de evasão escolar no Rio de Janeiro é de 3%, porém nas favelas essa média é superior a 10%. No caso da Rocinha, que lidera a lista, o número passa de 17%. Segundo dados do IBGE 2010, apenas 1,6% dos moradores de favela tem ensino superior.

Na favela, ele cresce assistindo a violência, miséria e descaso. Toda essa descrição pessimista é a mais pura verdade. As nossas crianças são verdadeiros heróis, pois passam por imensas dificuldades e barreiras inimagináveis para a idade delas.

A saúde também é um fator assustador. Como sofrem as mães desde o parto até o crescimento de seus filhos nas filas dos hospitais, e quantos morrem pelo descaso com a saúde publica. Segundo a ONU, o índice de desnutrição no Brasil é de 19% entre os moradores de favelas, e 5% entre os que vivem em outras áreas urbanas. Ainda segundo pesquisa, em cada oito crianças que vivem em favelas com aproximadamente 10 anos, uma teve pais que foram assassinados.

Essa é a realidade de nossas favelas, esse é o dia a dia das nossas crianças. Enquanto não tivermos uma política que pense na inclusão delas, teremos sempre a violência presente nas favelas. Não adianta remediar depois que o problema está pronto, a solução precisa ser na base.
*Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária.

Fonte: Brasil247

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