Há muita gente insatisfeita com o tipo de vida que leva
Por Fátima Oliveira
Eu não imaginava que o impacto do artigo “Pelo nosso futuro comum: audite o lixo e use ecossacolas” (Opinião, 11.8), tivesse como eixo a referência a três temas, a saber: pegada carbônica, filosofia slow food e ecogastronomia. Pontuando que não sou um poço de sabedoria nos assuntos mencionados, apenas uma curiosa aprendiz, fiquei impressionada e feliz com os muitos e-mails recebidos com mil e uma indagações.
Há muita gente interessada em trilhar outros caminhos em busca de um padrão de vida mais condizente com a ecologia humana, sobretudo porque está asfixiada e insatisfeita com o tipo de vida que leva. É possível superar a dicotomia ser humano X natureza com a inclusão da dimensão humana aos ecossistemas naturais, em diferentes lugares, tanto urbanos como rurais.
Nem sempre é preciso virar bicho-grilo e ir morar nas brenhas para construir um novo padrão cultural de vida seguindo as veredas da simplicidade voluntária e suas matrizes ecológicas. Não há leis e nem regras, como as receitas de bolo. Há uma literatura considerável sobre o que é ou não simplicidade voluntária. A maior parte elenca receitas de bem viver como verdade única. Salta aos olhos que a vida não pode ser pautada no cerceamento da liberdade.
Nem todo mundo pode optar pela simplicidade voluntária de almanaque. E, se insistir em seguir regrinhas, acabará numa masmorra. Cada pessoa deve encontrar seu próprio caminho. Ao perceber que a vida que levamos dá mais dissabores que prazeres e vira um fardo, é hora de auditar a vida e assuntar para onde o vento sopra. Se der, é seguir o pé de vento.
Grosso modo, o conceito de pegada carbônica é a taxa de carbono produzido em uma atividade, seja por uma pessoa, segundo o estilo de vida adotado, por uma indústria ou na produção e transporte dos alimentos. Em suma, é o impacto ambiental de uma atividade. Sobre food miles: a pegada carbônica dos alimentos, ainda não sei muito. Tenho uma vaga ideia, suficiente para defender a rotulagem obrigatória da pegada carbônica dos produtos industrializados, pois já compreendo que “nossa escolha alimentar pode afetar o mundo”.
A filosofia “slow food” defende que comer bem é um direito humano fundamental, do qual decorre “a responsabilidade de defender a herança culinária, as tradições e culturas que tornam possível esse prazer; segue o conceito da ecogastronomia e reconhece as fortes conexões entre o prato e o planeta. O alimento deve ter bom sabor; ser cultivado de maneira limpa, sem prejudicar nossa saúde, o meio ambiente ou os animais; e os produtores devem receber o que é justo pelo seu trabalho”.
Ou seja, o alimento deve ser bom, limpo e justo. E mais, que “somos co-produtores e não simples consumidores, pois tendo informação sobre como nosso alimento é produzido e apoiando efetivamente os produtores, tornamo-nos parceiros no processo de produção”.
Conheça mais: www.slowfoodbrasil.com
O movimento Slow Food, fundado em 1986 por Carlo Petrini, tem como princípio “o direito ao prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade especial, produzidos de forma que respeite tanto o meio ambiente quanto as pessoas responsáveis pela produção, os produtores”. Sou fascinada por uma das ações do Slow Food, a Arca do Gosto, “um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais”.