Denúncias de casos de racismo em Niterói têm subnotificação

Secretaria de Direitos Humanos registrou 873 casos; entidades acreditam que números são mais altos

Na semana passada, a denúncia de um caso de agressões físicas e ofensas racistas, ocorrido num restaurante em São Francisco, ganhou as redes sociais. O episódio não foi isolado. Entre as 5.823 denúncias recebidas pela Secretaria municipal de Direitos Humanos de fevereiro de 2021 até o último dia 15, foram registrados 873 casos de racismo na cidade. As queixas de preconceito motivado pela cor da pele só ficaram atrás de demandas relativas a emissão de registro civil, com 1.281 solicitações; e violações de direitos da criança e do adolescente, com 989 ocorrências. Apesar do número expressivo, entidades da sociedade civil acreditam que há subnotificação de registros oficiais tipificados como racismo e injúria racial.

O presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Rafael Borges, explica que no jargão jurídico esse apagão de informações é chamado de “cifra oculta”.

— A subnotificação é uma realidade que perpassa todos os registros oficiais. E está muito presente em situações de violência de gênero, racismo e injúria racial. Isso é um obstáculo à construção de políticas públicas. Mas essa cegueira é deliberada, porque a ausência desse indicador revela o racismo estrutural de nossa sociedade. Não há vontade de resolver esse conflito— analisa Borges.

O coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU) de Niterói, Jair Ribeiro, revela que, atualmente, o grupo trabalha, com apoio jurídico, em cinco denúncias de racismo na cidade. Ele destaca, porém, que algumas pessoas ficam com medo de levar o registro à frente.

—Os migrantes e refugiados africanos são os que mais sofrem esse tipo de violência. Acompanhamos um estudante que veio fazer intercâmbio na UFF e foi agredido por um grupo — conta.

O caso em São Francisco ocorreu no último dia 9, no restaurante Mocellin. Segundo a denúncia registrada na 79ª DP (Jurujuba), além de levar tapas e socos de um grupo de homens e mulheres, uma mulher negra, de 43 anos, foi chamada de “macaca” e “piranha”.

A Polícia Civil investiga o caso como injúria racial, lesão corporal e ameaça.

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...