Depois da polêmica festa, Donata Meirelles pede demissão da Vogue

Donata Meirelles anunciou hoje à noite sua demissão da direção da Vogue.

Por  Gilberto Dimenstein , do Catraca Livre 

Donata Meirelles, diretora de estilo da Revista Vogue, em sua festa de 50 anos: evento foi realizado em Salvador e teve show de Caetano (Donata Meirelles/ Instagram/Reprodução)

Com tristeza no coração, mas com a coragem e a cabeça erguida que sempre pautaram a minha vida, inicio um novo ciclo e peço demissão da Vogue Brasil, uma publicação que ajudei a construir.

Te amo Vogue, te amo desde jovenzinha. Conte comigo para que você continue fazendo a diferença no mercado editorial e de moda, defendendo e promovendo todas as belezas humanas, como eu continuarei a defender.”

Ela não explica o motivo.

Mas é sabido.

Donata Meirelles  comemorou seu aniversário de 50 anos na última sexta-feira, 8, no Palácio da Aclamação de Salvador, com uma festa que virou polêmica nacional.

Um espaço foi montado para os convidados tirarem fotos ao lados de mulheres negras vestidas de roupas e turbantes brancos, posicionadas em volta de uma grande cadeira, como se fosse de coronéis de engenho. Cena que para muitos internautas remeteu a escravidão.

A festa recebeu muitas críticas, inclusiva da escritora e ativista Djamila Ribeiro. “Essa festa tratou pessoas negras de maneira muito desrespeitosa, remetendo a uma herança colonial. O que me incomoda em tudo isso é a conivência. As pessoas que lá estavam agem como se nada tivesse acontecido”, disse. Também acrescentou: “Além da dona da festa, eu acho que as pessoas que estavam lá também devem ser responsabilizadas, sobretudo as que se dizem anti-racista. Passou da hora da branquitude pensar e se repensar. Não dá para compor com o pacto narcísico da branquitude. É muito violento. O que aconteceu não foi meramente uma festa. É o reforço de uma estrutura colonial. ”

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Quem de fato é aliado e quem “vende” os seus

Uma publicação compartilhada por Djamila Ribeiro (@djamilaribeiro1) em

Pedido de desculpas

Donata Meirelles usou sua conta no Instagram para pedir perdão. Também explicou que as mulheres que foram interpretadas como escravas vestiam trajes de baiana. “Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição. Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa”, postou.

 

Visualizar esta foto no Instagram.

 

Ontem comemorei meus 50 anos em Salvador, cidade de meu marido e que tanto amo. Não era uma festa temática. Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição. Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir.

Uma publicação compartilhada por donatameirelles (@donatameirelles) em

 

 

Leia Também:

‘Ela deveria colocar negras na capa da Vogue’, diz Olívia Santana sobre polêmica

Ivete Sangalo, até quando irá se apropriar e fechar os olhos?

Elza Soares sobre festa da diretora da Vogue: “escravizar, nem de brincadeira”

O posicionamento da diretora de marketing da L’Óreal sobre jantar de Donata Meirelles

A cadeira da foto da socialite-sinhá, segundo um antropólogo

+ sobre o tema

Novo termo para “auto de resistência” não combate a violência policial

A Anistia Internacional criticou a nova nomenclatura estabelecida pelas...

STF: Audiencia Pública Kabengele Munanga

Ministro Ricardo Lewandowski Chamo agora para fazer uso da palavra...

Ministério Público processa Globo por racismo

A emissora irá responder por danos morais coletivo e,...

A quem serve o “racismo reverso”?

Em face do contexto de negacionismo científico e avanço...

para lembrar

Portugal : Em seis anos foram abertos 154 processos de contraordenação por racismo

Nos últimos seis anos foram abertos 154 processos de...

MP-BA lança aplicativo para mapear casos de racismo

Ferramenta estará disponível para download no próximo dia 19 Do...

DJ com tatuagens com alusões ao nazismo toca na Parada Gay de SP e gera polêmica

Direção de desfile LGBT de Santo André cancelou...
spot_imgspot_img

Policiais que abordaram jovens negros filhos de diplomatas no RJ viram réus

Os policiais militares que abordaram quatro adolescentes – três deles negros e filhos de diplomatas – em Ipanema se tornaram réus pelos crimes de...

Os homens que não rompem com a lógica machista

Como uma mulher crítica às plataformas de redes sociais e seus usos, penso ser fundamental termos compromisso e responsabilidade ao falarmos de certos casos....

Cinco mulheres quilombolas foram mortas desde caso Mãe Bernadete, diz pesquisa

Cinco mulheres quilombolas foram mortas no Brasil desde o assassinato de Bernadete Pacífico, conhecida como Mãe Bernadete, em agosto do ano passado. Ela era uma das...
-+=