Deputada Talíria Petrone, do PSOL, revela que PF descobriu plano para matá-la, e diz que Witzel ignora pedidos de escolta no Rio

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL) veio a público nesta quinta-feira expor que vem recebendo ameaças, e que uma investigação da Polícia Federal descobriu que um plano vinha sendo orquestrado desde 2018 na dark web – área de difícil acesso e rastreio na internet – para assassiná-la. O motivo para a revelação parte de um desconforto com o Governo do Estado, conforme antecipado pela coluna de Ancelmo Gois: Talíria afirma que o Executivo é omisso sobre pedidos de proteção em solo fluminense, e ignora ofícios enviados desde o dia 23 de abril pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM).

Por Arthur Leal, do Extra 

Deputada federal Talíria Petrone — Foto: Ricardo Albertini/Câmara dos Deputados

— Recebo um conjunto de ameaças há dois anos. Antes mesmo do assassinato da Marielle. Inclusive, por isso, eu tive escolta durante alguns meses no Rio depois da execução dela. Mas perdi assim que comecei minha campanha política. Este episódio só se soma aos anteriores, e é isso que nos preocupa. Há um ódio muito grande contra alguns corpos que ocupam a política. E há um medo de algumas pessoas que estão nos poderes de serem questionados. Há braços no estado, como a milícia, que têm medo de perder esse poder. Eu acho que é isto que mexe com as estruturas — afirma Talíria. Ela revela que, após a morte da amiga e companheira de partido Marielle Franco, o medo ficou ainda maior.

Há dois meses, a Polícia Federal entrou em contato com a Polícia Legislativa para informar sobre mensagens captadas num ambiente de difícil acesso e rastreio da internet, onde grupos extremistas, e até de pistoleiros, aproveitam o anonimato e se comunicam constantemente. Nos dados, a PF constatou que, desde 2018, vem sendo orquestrado um plano por suspeitos não identificados, para matar Talíria. O caso é apurado em sigilo, e, desde então, a Depol garante a escolta da parlamentar em Brasília.

— Imediatamente a Polícia Legislativa, que tem sido acolhedora e incansável nessa minha proteção em Brasília, passou a fazer minha escolta. Só que no Rio eles não tem atribuição para fazer esta escolta. Foi então, que o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, decidiu encaminhar a questão oficialmente ao governador Witzel. E assim ele o fez por duas vezes. A terceira partiu de nós. Pedimos uma reunião do PSOL com o governador, e nenhuma das três foi respondida — conta a parlamentar.

Em nota, o Governo do Rio afirma que a escolta deveria ter sido pedida à Polícia Federal, que, segundo o estado, é responsável pela proteção de deputados federais, e que há amparo num Decreto Federal. De acordo com o texto, o gabinete encaminhou o pedido à Superintendência da PF no estado:

  • O pedido da deputada federal Talíria Petrone de escolta pessoal, por 24h, pelo tempo que esta permanecer nos limites do estado do Rio, foi tecnicamente analisado pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
  • Por se tratar de um pleito na esfera Federal, o gabinete concluiu que este deve ser verificado pela Polícia Federal e irá encaminhá-lo à Superintendência da PF no Estado do Rio de Janeiro.
  • A conclusão está amparada no inciso III, do Art. 1° do Decreto Federal n° 73.332, de 1973, normatizado pela Portaria do Ministério da Justiça de n° 13, de 2001.
  • O GSI-RJ ressalta ainda que a parlamentar tem direito à proteção da Polícia Militar do Rio de Janeiro, quando estiver no estado em missão oficial, assim como autoridades de outros estados da Federação, desde que autorizada pelo governador. Pedidos pontuais como esse podem ser solicitados com até 48 horas de antecedência ao evento“.

Talíria define a resposta como “absurda”, e diz que procurou a Polícia Federal, que também disse que fazia escolta apenas para autoridades estrangeiras no estado.

— É um absurdo esta resposta ter sido dada agora. É um desrespeito. Ele (Witzel) recebeu três notificações nos últimos dois meses, duas do presidente da Câmara Federal. Então, primeiro lamento esta resposta, que veio apenas pela pressão da imprensa. Nós entendemos que o Executivo deve garantir nossa proteção. Então, vamos, mais uma vez, enviar um ofício ao governador, e acionar o Ministério da Justiça para um diálogo sobre a questão. A Polícia Federal nos afirmou que fazem proteção apenas de autoridades estrangeiras. Com este impasse, fica claro que a violência política instaurada no Brasil é alvo muito grave. Temos um parlamentar eleito que foi embora do país, outro ameaçado pela milícia…. os governos deveriam tomar ações para enfrentar estes agressores — desabafou.

Procurada, a Polícia Federal ainda não se pronunciou.

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