A descoberta do túmulo do herói cearense Dragão do Mar foi destaque, nesta sexta-feira (29), no site da Universidade da Flórida, no sul dos EUA, mostrando que a fama do jangadeiro abolicionista (1839-1914) ultrapassa fronteiras e ganha espaço no mundo acadêmico no exterior.
Sob o título “Lost and found: The tomb of the Sea Dragon, Brazil’s famous abolitionist” (Perdido e encontrado: o túmulo de Dragão do Mar, o famoso abolicionista do Brasil), o texto detalha a dissertação do historiador cearense Licínio Nunes de Miranda, cujo trabalho acadêmico resultou no fim de um mistério de mais de um século sobre o paradeiro do corpo do jangadeiro nascido em Canoa Quebrada, em Aracati (litoral leste do Ceará).
O nome de batismo de Dragão do Mar, também conhecido como Chico da Matilde (nome de sua mãe), era Francisco José do Nascimento. Ele era jangadeiro e organizou uma greve em 1881, recusando-se a desembarcar escravos que chegavam da África ao Ceará.
“Foi a primeira grande vitória dos brasileiros contra a escravidão”, avaliou Miranda no texto da universidade americana.
Ele buscou pistas sobre a localização do túmulo em arquivos e procurou o jazigo no cemitério São João Batista, em Fortaleza.
“Era o único cemitério da capital quando Nascimento morreu em 1914”, contou o pesquisador, que percorreu o labirinto de sepulturas, verificando estátuas, até encontrar o túmulo da família de Dragão do Mar no dia 24 de julho de 2020.
A reportagem publicada pela Universidade da Flórida nesta sexta-feira traz uma selfie que Miranda realizou diante do jazigo de Dragão do Mar. “Descanso eterno do major Francisco José do Nascimento e sua família” era a inscrição na sepultura.
“Ele merece ser lembrado”, afirma o estudante no texto do site da universidade americana, que traz um link para a reportagem do Diário do Nordeste publicada na época da descoberta do jazigo.
O historiador cearense se diz gratificado por ver o legado de Dragão do Mar preservado, embora ressalve que as desigualdades raciais persistam no Brasil.
“As pessoas podem aprender sobre tolerância, liberdade e igualdade com essas figuras históricas que fizeram tanto, apesar de terem tão pouco”, observou o estudante.
Ele pretende continuar suas pesquisas sobre os abolicionistas cearenses dentro de um programa para estudantes estrangeiros da Universidade da Flórida. Atualmente, há um forte interesse dos americanos em histórias esquecidas do povo afro, diante do fortalecimento, nos últimos anos, do movimento antirracista no país, conhecido como “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam). Para nós, cearenses, a descoberta do jazigo nos premia com um ponto de referência para exaltar a memória do nosso jangadeiro mais famoso.
Foto em destaque: Reprodução/ Diário do Nordeste
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