Desvendando a chatice dos earworms e da coceira cerebral

por: FÁTIMA OLIVEIRA

Tenho o hábito de ouvir a mesma música várias vezes… Só a minha neta Luana aguenta. Ela, como eu, se gosta de uma música, a ouve n vezes. Quando invoco com uma música, quem estiver comigo no carro pode até pedir para descer. Já aconteceu. Nas férias de 2009, ela, então com 10 aoos, e o irmão Lucas estavam em Beagá e o programa era cavalgar. Ela então descobriu os sons sertanejos, pois vou e volto do haras ao som de música caipira. Ela entrou no clima.

Adorava “De que me adianta viver na cidade/ Se a felicidade não me acompanhar/ Adeus, paulistinha do meu coração/ Lá pro meu sertão, eu quero voltar/ Ver a madrugada, quando a passarada/ Fazendo alvorada, começa a cantar/ Com satisfação, arreio o burrão/ Cortando o estradão, saio a galopar/ E vou escutando o gado berrando/ O sabiá cantando no jequitibá…” (“Saudade de Minha Terra”, de Goiá e Belmonte).

Um dia, Luciana Froede nos esperava na altura do BH Shopping. Meu filho Arthur e o Lucas deram “tchau” espicaçando: “Vó e neta doidas, fiquem ouvindo a mesma música. Vamos com a Luciana…” Luana, aliviada, bradou: “Vó, agora que eles saíram, pode tocar o Xitão até o haras?” Foi feita sua vontade. Quase 30 km ouvindo “Saudade de Minha Terra” e ela deitadinha no banco de trás. No haras, desceu cantando a música! “Ih, vó, aprendi!”

“Vó: Oi, vida amargurada/ Quanta dor que sinto neste momento em meu oração/ Oi que saudade dela/ Não aguento mais vou lá na vendinha tomar um pingão” (“Vou Tomar um Pingão”, de Léo Canhoto). Ou então: “Eu sou um peão de estância/ Nascido lá no galpão/ E aprendi desde criança/ A honrar a tradição/ Meu pai era um gaúcho/ Que nunca conheceu luxo/ Mas viveu folgado enfim/ E quando alguém perguntava/ O que ele mais gostava/ O velho dizia assim:/ ‘Churrasco e bom chimarrão/ Fandango, trago e mulher/ É disso que o velho gosta/ É isso que o velho quer…'” (“É Disso que o Velho Gosta”, de Berenice Azambuja e Gildo Campos).

Não sei o nome da necessidade quase insaciável de ouvir a mesma música. Intuo que, se não é anormal, é limítrofe. Pesquisando, encontrei a metáfora das “earworms” (larvas ou vermes de ouvido; “repetunitis” ou melodiamania) e a coceira cognitiva ou coceira cerebral – “necessidade do cérebro de preencher lacunas no ritmo de uma música”. Sou vítima de larvas de ouvido. Sabe aquelas músicas que a gente, sem que e nem pra que, fica cantando dia e noite sem parar e quanto mais canta, mais quer? É isso!

“James Kellaris, da Universidade de Cincinnati (EUA), pesquisando ‘earworms’ e coceira cerebral, afirma que cerca de 99% das pessoas já foram vítimas do fenômeno uma vez ou outra” e que “há músicas com propriedades análogas às de uma histamina, que coçam nossos cérebros”. Estudo da Bucknell University concluiu: “Mais da metade dos estudantes que tiveram canções grudadas na cabeça classificaram-nas como agradáveis; 30% como neutras, e 15% como desagradáveis”. Outros dados: “A maioria das pessoas (74%) é pega por músicas com letras, mas jingles (15%) e músicas instrumentais (11%) também podem ser duro de se livrar”.

“Músicas grudadas na cabeça” ou “músicas chicletes” são apenas chatices. Mas ouvir a música que não está ali (não apenas pensar nela) pode ser sintoma de endomúsica – pensamento obsessivo em que a pessoa ouve canções que não estão sendo tocadas!”. É consensual que verme de ouvido é um modo de manter o cérebro ocupado quando ocioso. Seria o mesmo a necessidade de ouvir a mesma música várias vezes?

Fonte: O Tempo

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