Neste sábado comemorou-se o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha. O dia foi criado para fortalecer e estimular a reflexão sobre a condição dessas mulheres, a discriminação da qual são expostas e que as coloca em situação de vulnerabilidade.
Por Mônica Francisco, do Jornal do Brasil
As mulheres afrodescendentes têm recebido em nossos dias tratamento claramente desigual em relação às mulheres brancas. Não, não é simplesmente uma conversa de panfletária ou de ordem sectária, não, é fruto de constatação, e os números da desigualdade para as mulheres negras são ainda muito frustrantes.
Na última quarta-feira, houve o lançamento oficial da Década Internacional de Afrodescendentes, sob o título, “Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”, a Década Internacional de Afrodescendentes, declara pela ONU, será celebrada no período de 1º de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2024, com a participação dos 196 países membros da ONU, entre eles, o Brasil.
Esperamos que no mundo inteiro possamos contar com mudanças vigorosas em relação ao tratamento destinado ás mulheres negras e não-brancas. A violação, humilhação, infantilização e a invisibilidade são as formas mais perversas pelas quais as mulheres negras são violadas pela sociedade diariamente.
A estética da mulher negra, suas formas e seu cabelo são sempre alvo de ataque e ridicularização. É necessário que haja uma séria mudança no comportamento da sociedade em relação à mulher negra. Como esquecer a violação sofrida pelo corpo negro de Cláudia, arrastada pelas ruas do Rio por uma viatura policial, após ser assassinada por eles.
Como esquecer a recente violência sofrida pela afroamericana Sandra Blend, que ao buscar uma chance de trabalho, acabou presa e morta por policiais brancos no Texas(EUA).
Como esquecer a tragédia das meninas e mulheres da Nigéria, aviltadas de todas as formas pelo grupo extremista e braço do Estado Islâmico, o Boko Haram, ante o silêncio e inoperância do mundo, salvo alguns movimentos de repúdio e de frases como “libertem nossas meninas” (como se a organização em questão, fosse afeita a saídas diplomáticas e pedidos de celebridades).
A luta dos movimentos negros tem, e muito, contribuído para minimizar os efeitos nefastos das sequelas produzidas pela escravização do povo negro. A luta das mulheres negras por sua emancipação, reconhecimento, também tem sido incansável.
Muitas conquistas vieram, mas ainda temos que conviver com um número assustador de mortes maternas, mutilações, demora na assistência médica. Tivemos a conquista do Estatuto da Igualdade Racial, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra no Ministério da Saúde, para tentarmos diminuir as iniquidades sofridas pelos homens e pelas mulheres negras.
Por isso, é de suma importância celebrarmos a beleza e, sobretudo, a luta da mulher negra no mundo inteiro. Estimular cada vez mais o comprometimento com que as jovens mulheres negras vêm se apropriando da estética, da história e da memória ancestral para produzir mais estudos acadêmicos, ações culturais e contribuir para a consolidação das políticas públicas conquistadas e das que irão se somar a elas.
Acredito que estamos no caminho de acabar de vez com o racismo cordial, que nos invisibiliza, desumaniza e nos faz caminhar ainda como cidadãos de segunda classe. É preciso constranger aqueles que nos fazem ter que usar seus produtos, mas dizem que nós não podemos estar em suas peças publicitárias, porque “não vendemos produto”.
Acredito que vamos aos poucos minando a frase repetida à exaustão por longos anos: “É só uma brincadeira”. Por mais respeito e dignidade, viva as mulheres negras, latinas e caribenhas.
“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL,ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!”
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do GrupoArteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)