Dia dos pais

Passei o último domingo com minhas filhas de 20 e 25 anos. Para variar, a conversa girou em torno de coisas que o pai, cartunista, escritor e agora Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial, sempre defendeu. Algumas das quais, elas nunca vivenciaram, mas aprenderam a defender também. Seja por amor, solidariedade ou até mesmo por aquele sentimento muito comum entre as mulheres: cumplicidade.

Por Maurício Pestana via Guest Post para o Portal Geledés

As duas sempre viram o pai defender cotas nas universidades, embora nunca tenham tido que recorrer a esse sistema para estudar. Mas entendem a dívida histórica que o Brasil tem com os negros e a importância desse recurso para avançarmos socialmente.

Sempre ouviram do pai que o pior mal da economia é uma tal de hiperinflação aliada ao desemprego, algo que também não chegaram a sentir.

Que impeachment por aqui só ocorreu quando um presidente playboy, inventado pela direita e inflado por um grande veículo de comunicação, chegou ao poder e, entre outras coisas, surrupiou a grana da população, bem diferente do que alguns querem fazer hoje com uma presidente reeleita com base popular e que até pegou em armas para defender a democracia neste país.

Que quem já viveu sob os tempos do governador Adhemar de Barros (1901-1969), autor da célebre expressão “rouba mas faz”; da ditadura militar com o ministro Delfim Neto, apelidado na época de ministro 10%; e da gestão Paulo Maluf no governo de São Paulo sabe que o que estamos vendo na Operação Lava Jato não começou agora, mas que atualmente as coisas estão mudando até demais, pois estão prendendo até quem já está preso.

Que hoje, quando viajam de avião, podem ver outras pessoas negras embarcando por via aérea, bem diferente de seu pai quando tinha a idade delas, onde era o único negro e sempre confundido com pagodeiro ou jogador de futebol nos aeroportos.

Mas, principalmente, elas ouviram no almoço de dia dos pais que, neste país, golpe ainda é algo que não pode ser descartado e que, por serem jovens, precisam estar atentas para lutar e defender a democracia. Assim como seu pai o fez, em um passado não muito distante.

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