Diálogos sobre a África

Enviado por / FonteSesc

Em coedição com a Zahar, Sobre a “filosofia africana” é uma das obras que abrem a Coleção Biblioteca Africana

A diversidade linguística e cultural da África, suas formas de organização política, suas matrizes científicas, filosóficas e espirituais estão presentes em nosso dia a dia, apesar dos sistemáticos e violentos esforços de negar a intensidade dessa presença. Trazendo autores africanos fundamentais, as Edições Sesc, em coedição com a Editora Zahar, lançam a Coleção Biblioteca Africana.

Obras não ficcionais sob os amplos eixos da filosofia, experiências políticas, crítica literária e de arte, história e teoria social compõem a coleção, pensada junto de um conselho de orientação formado por Kabengele Munanga, Edson Lopes Cardoso, Sueli Carneiro, Tiganá Santana e Luciane Ramos-Silva.

Dois títulos inauguram a Biblioteca Africana; o primeiro deles, é um dos cem melhores livros africanos do século XX. Sobre a “filosofia africana” é um convite para o engajamento crítico com o trabalho de estudiosos africanos num mundo moderno que tanto se sustentou na negação racista da capacidade intelectual de pessoas negras. As aspas no título não são um detalhe, pois simbolizam um olhar que coloca sob suspeita a ideia de uma filosofia africana produzida a partir de lentes eurocêntricas.

Desenvolvendo uma contundente crítica à etnofilosofia, baseada na suposta existência de um pensamento coletivo africano, o autor Paulin J. Hountondji defende a passagem da África-objeto para a África-sujeito, de modo que a filosofia africana nada mais que é “o conjunto de textos produzidos por africanos e qualificados como filosóficos por seus próprios autores”.

Assim, o que está em jogo no uso do adjetivo “africana” não é um sentido essencialista, mas a busca pela afirmação de um protagonismo negro-africano na filosofia que não está submetido aos ditames de uma ciência eurocêntrica. Ao longo do livro, o autor põe em prática sua visão ao dialogar criticamente com Aimé Césaire, Kwame Nkrumah, Leopold Senghor, Anton Wilhelm Amo, entre outros.

Paulin J. Hountondji (1942-2024) nasceu no Benin e foi o primeiro estudante africano de Filosofia na Escola Normal Superior de Paris. Trabalhou como professor na Universidade Nacional da República de Benin, foi também Ministro da Educação no país. Sobre a “filosofia africana”, eleito um dos cem melhores livros africanos do século XX, recebeu o Herskovits Prize em 1984 e ganha agora a sua primeira edição brasileira.


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