Diário Olímpico – Dia Quinze

Ainda dá tempo de corrigir: Nós, cariocas, perdemos tempo demais frequentando a casa da Áustria para nos sentirmos austríacos, a Casa da Suíça para nos sentirmos suíços etc. E, também, perdemos tempo nas arquibancadas de esportes manjados esvaziando os que só podemos assistir de perto em Jogos Olímpicos.

Por Dodô Azevedo Do G1

Tempo não interagindo com turistas de países a nós pouco conhecidos, com gente que só poderia estar aqui por causa do maior evento esportivo do mundo. Logo nós que, hoje, como sociedade, estamos tanto precisando conhecer, entender e aceitar o outro.

Entre assistir ao vivo jogo semifinal de vôlei masculino e um convite para jantar com torcedores do Azerbaijão, fiquei com o programa que apenas uma edição dos Jogos Olímpicos em minha própria cidade me proporcionaria.

Tudo começou no Parque Olímpico da Barra, onde passei o dia com a camisa da seleção de futebol do Irã, adquirida justamente na região do país chamada de Azerbaijão Iraniano. Assistia às finais de luta greco romana ao lado de torcidas que, fora do esporte, costumam entrar em guerras sangrentas e milenares. Armênia, Turquia, Sérvia, Croácia, Coreia do Sul, Coreia do Norte: todos convivendo nas arquibancadas, sem conflitos.

Torcemos juntos, sofremos juntos e, no final, veio o convite para jantar. Levei-os ao Bar da Gema, na Tijuca.

No jantar, fui bombardeado com perguntas. Os azerbaijanos, por estarem já há uma semana no Rio, não falarem bem o inglês e não receberem de nós tanta atenção que damos a turistas ingleses, por exemplo, estavam cheio de dúvidas.

Primeiro perguntaram porque rimos de esporte tão sisudos e milenares quanto a luta greco-romana. Tive vergonha de responder. Depois, perguntaram o que significava o grito de guerra que a torcida brasileira entoava para qualquer luta. Também não respondi. O canto era:

– Vai tomar de quatroooo!

Perguntaram também sobre as arquibancadas vazias, principalmente no atletismo, célebre por historicamente lotar estádios em Olimpíadas.

Respondi que até a Olimpíada começar, havia uma campanha, da imprensa brasileira inclusive, contra os jogos. Que passaríamos vergonha na organização. E destaquei, também, o preço dos ingressos estavam caros.

Azebairjanos são reservados e alguns, os chamados “indígenas nativos”, tem os olhos de formato oriental, fechados, do povo mongol. Mesmo assim, puderam perceber: me perguntaram porque dentro das arenas só se via gente branca se nas ruas viam tanto negros.

Expliquei que o Brasil foi o último país a abolir a escravatura. Eles ficaram chocados. Tinham certeza de que éramos o povo mais feliz e amoroso do planeta. Incapaz de escravizar-mo-nos uns aos outros.

Até ali, estavam adorando a comida local. Em um restaurante por quilo em Copacabana, todos os dias comiam arroz, feijão e bife. Estavam surpresos que a comida daqui fosse nada exótica.

Descrevi, então, a feijoada e o mocotó. Mandei vir um suco de graviola. Ficaram felizes da vida. Até então, a tão sonhada experiência no Brasil estava sendo gastronomicamente boa, mas ordinária.

Não estavam preocupados, porque sequer inteirados da questão da segurança pública. Mesmo se estivessem. São turistas do Cáucaso e Cáspio. Violência é, para eles, milenar, inevitável e cíclica contração social.

Parabenizaram a ausência de mendigos e miséria na cidade. E o transporte público, o metrô da Zona Sul à Barra. Respondi:

– Que bom, porque foi feito por causa e para vocês.

Começou o samba, pedi uma rabada. O bar, a clientela começou a ferver. Ao contrário do que acontece nos Parque Olímpico, uma alegria inclusiva. Em poucas horas, os azerbaijanos tinham conversado com mais brasileiros do que em uma semana nas arquibancadas e lugares oficiais de convivência olímpica.

Dentro do bar, ninguém de verde e amarelo, notaram.

No fim da noite, perguntaram, extasiados mas ainda confusos.

– Por que as pessoas que não vestem verde e amarelo parecem mais brasileiras do que as que vestem?

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