DINA DI: Um adeus a Rainha do Rap

Morre Dina Di, grande guerreira do hip hop nacional

por Jéssica Balbino

Com uma vida nada fácil, ela foi a primeira a esmurrar a porta do barraco brasileiro e anunciar as mulheres no rap. Uma mina de fato, como poucas dentro do hip hop.
A atitude e a força na voz a fazem a “Rainha do Rap”, eternizada mesmo após a confirmação da sua morte às 23h30 de sexta-feira (19).


Vítima de uma infecção hospitalar após o parto da filha no último dia 2 de março, Dina Di deixou o mundo que nem sempre lhe foi o melhor lugar e partiu.
No legado ela deixa o estilo e a rima na ponta da língua. Tinha o rapper na carne e transformava as feridas arrombadas em letras.


Dos CDs gravados, ficou conhecida após se apresentar como “a noiva de chuck” e o casamento só aconteceu há pouco tempo.


Conheceu o hip hop aos 16 anos e escondida em roupas largas e bonés, apresentou as primeiras rimas, sempre defedendo o universo feminina.
Morreu após dar a luz, na maior representação feminina que existe, o parto e o nascimento de um filho. Por ser conhecida, tem a história divulgada.
Vítima de mais um sistema de saúde falido no nosso país.


Com a visão que tinha da rua, montou um grupo de mesmo nome e gravou três CDs que ganharam os guetos rapidamente.
Entre as vozes femininas do rap, Dina Di foi quem mais levantou a bandeira do movimento. Vítima do próprio sistema que tenta combater, viveu uma vida literalmente à margem da sociedade.


Não teve tempo de amamentar a filha como deveria e nem de vê-la crescer. Deixou mais uma, entre as milhares do Brasil, criança sem mãe neste país que não é pátria.


Mesmo sendo quase invisível no sistema que o hip hop combate, ela foi uma denúnciua andante, conceituou o rap na carne.
Sempre teve medo de descern do palco e ver a Dina Di morrer. Antes de ir para o hospital, estava agendando shows por todo o Brasil. Não deu tempo de visitar Poços de Caldas.


Antes de se tornar conhecida, perdeu as contas de quantas vezes passou pela Febem desde que fugir de casa, aos 13 anos.
O pai de Dina Di era mestre de obras e morreu engasgado com um pedaço de carne num boteco, na periferia. A mãe dela era camelô e foi assassinada dentro de casa, uma morte lenta e dolorosa, ela foi asfixiada com um pedaço de pano que lhe enfiaram na garganta, enquanto estava amarrada com os fios do varal de roupas.
Mas, nada disso a impediu de escrever com as vísceras e alma, relatando todasas dores que a perfuram.
Certa vez uma reportagem foi finalizada com a seguinte frase: “palco, diante de milhares de sobras humanas com voz e com raiva, Dina Dee e os seus têm chance de não morrer no beco”.


Que pena que o otimismo não foi o suficiente. Ela morreu antes da hora. Se foi antes do tempo. Não ensinou tudo que podia e nem cantou tudo que queria.
Mas, talvez nós, que acompanhamos esta trajetória e sabemos das dores de sermos tachados de trapos humanos consigamos melhorar um pouco a nossa periferia, a nossa volta e não percamos mais mulheres para a saúde falida do nosso país.

Fonte: Central Hip Hop

+ sobre o tema

Ministra Luiza Bairros recebe medalha Zumbi dos Palmares na Câmara Municipal de Salvador

Solenidade será no dia 17/11, às 19h, na Câmara...

Marcelo Paixão – O sexo e a cor da desigualdade

Nos últimos anos, ocorreram reduções nas desigualdades raciais em...

para lembrar

‘Ser capa de revista não significa que racismo acabou’, diz Iza

Em entrevista, cantora fala sobre luta, maternidade e empoderamento Por Beatriz...

Gilberto Gil fala de primeiro encontro com racismo e medo de morrer

Gilberto Gil está prestes a completar 80 anos. Se...

Clipe “Bluesman”, de Baco Exu do Blues, bate Beyoncé e vence prêmio em Cannes

O clipe "Bluesman", do rapper Baco Exu do Blues,...

Respect: A História de Aretha Franklin – estreia, elenco, trailer, escolhas e tudo que você precisa saber

Após sucessos de bilheteria como Ray(2004), Bohemian Rhapsody (2018) e Rocketman (2019),...
spot_imgspot_img

Tina Turner: 10 dos maiores sucessos da lenda da música

A cantora Tina Turner, que morreu nesta quarta-feira (24/05) aos 83 anos, criou muitos clássicos com sua combinação de R&B, funk, rock e pop,...

Idris Elba vai bancar documentário sobre racismo na música

Idris Elba revelou seus planos de financiar um documentário sobre a indústria da música que foque em artistas negros. Sabrina Elba, sua esposa, também...

O ressurgimento do kouri-vini, língua perdida dos EUA nascida da escravidão

No bar Hideaway on Lee, na cidade de Lafayette, no Estado americano de Louisiana, Cedric Watson canta a música Oh, Bye Bye em francês da Louisiana. A...
-+=