Direitos humanos e a atividade policial

Por Direitos Humanos ou direitos do homem devemos entender que se tratam daqueles que o homem possui por sua própria natureza humana e pela dignidade que lhe é inerente, constituindo um dever da sociedade política a ser garantido e consagrado.

por Gilmar Monego no JusBrasil

Em um passado bastante recente, nosso país foi sacudido por regimes políticos de governos mais austeros, com inúmeras violações dos direitos fundamentais do homem, o que serviu para despertar o olhar de alguns seguimentos da sociedade quanto ao respeito pelos Direitos Humanos. Posteriormente a essa fase histórica, foi restabelecido o Estado de Direito e o apoio dos intelectuais, que antes militavam, se esvaziou e somente aqueles desligados e independentes do grande capital e que não têm, em princípio grande apoio da imprensa, é que continuaram na luta em favor dos Direitos Humanos, desta feita com o conceito renovado e com pauta de reivindicação ampliada.

Em contrapartida, iniciaram-se as distorções com a redução do discurso pelos Direitos Humanos a uma questão policial, deixando de lado os direitos básicos à sobrevivência. Essa distorção, nos parece, que pretende mudar o eixo das discussões de todo o conteúdo dos Direitos Humanos, reduzindo-o a um discurso limitado na defesa desses direitos. Muitos acabam sem responder a uma indagação que amiúde surge na boca daqueles que pretendem esvaziar o discurso acerca dos Direitos Humanos: “e os direitos humanos da vítima?” Parece até que existem duas espécies de Direitos Humanos: os dos marginalizados e o das vítimas. Senhor leitor, os Direitos Humanos constituem um instrumento forjado para defender a pessoa humana de um modo geral e não apenas um indivíduo qualquer, seja ele criminoso, seja ele vítima de crimes.

Os Direitos Humanos estão disseminados não só através de transgressões à lei praticadas pelos homens, mas sim no exercício abusivo do poder político e do poder econômico.

As pessoas que lutam pelos Direitos Humanos no Brasil, são rotuladas como aquelas que lutam pela proteção do “bandido” contra a polícia, esquecendo-se (ou fingindo esquecer) que o conceito é mais abrangente e envolve outras ações civis na verdadeira luta por condições dignas de vida, portanto o discurso é muito maior.

A retórica de que os Direitos Humanos se resumem na busca de proteger os bandido da polícia, encobre o fato de que a polícia, foi (ou é) utilizada com freqüência como repressora dos movimentos de reivindicação das classes populares. Na verdade o choque não é entre a polícia e o cidadão e sim entre Estado e cidadão. A polícia serve apenas de instrumento, de força aparente, de materialização do Estado.

Seria por demais simplista imaginar que a Segurança Pública depende apenas das corporações policiais, essas representam apenas uma metade da questão, enquanto que a outra metade depende de fatores variados, como educacionais, sociais, econômicos, culturais, etc… E é exatamente no manejo eficiente dessa complexidade que vai assegurar ao país um bom nível de segurança pública. Esquecem alguns que jamais haverá um equilíbrio social, prosperando os Direitos Humanos, cidadania e democracia, sem que se melhore a distribuição de renda no país, por exemplo, pois na sociedade civil em que não impere essa tríade (direitos humanos, cidadania e democracia), qualquer menção legal a garantias fundamentais é de eficácia extremamente limitada.

O trabalho policial é extremamente difícil e deveria merecer todo o respeito da sociedade, no entanto, muitas vezes não encontra na sociedade brasileira a consideração e apoio que requer. A segurança pública necessita ser compreendida sob o prisma dos Direitos Humanos, para que se ajuste a atuação das polícias e aconteça seu aprimoramento. O respeito aos Direitos Humanos não implica em afrouxamento, tolerância ou complacência em relação à criminalidade, ao contrário exige respeito à vida e à integridade física das pessoas. A polícia como um todo tem que buscar a confiabilidade do cidadão, por isso é imperioso, respeitar o cidadão para conquistar o seu respeito.


Gilmar Monego

Advogado OAB/SC, Coronel da Reserva da PMSC e Especialista em Segurança Pública.

+ sobre o tema

São Paulo marca ‘beijaço de repúdio’ contra Marco Feliciano

Acusado de homofobia e racismo, deputado é alvo de...

Declarações de Feliciano incitam o ódio e a intolerância, diz Ministra dos Direitos Humanos

  A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência...

Mais um menino preto

Escritora Cidinha da Silva comenta morte do adolescente baiano...

para lembrar

Genocídio Brasileiro

Vocês querem saber qual é o estado de espírito,...

Maceió: Movimento negro denuncia ação de policiais à Promotoria de Justiça de Direitos Humanos

Representantes do movimento negro, a professora universitária Franqueline...

Classe média antipetista irá pagar em breve o preço de apoiar Temer

O colunista Jânio de Freitas, em artigo publicado na...
spot_imgspot_img

Polícia que mata muito demonstra incompetência de governos de SP, RJ e BA

Ninguém em sã consciência espera que um policial lance rosas, cravos e astromélias quando é recebido a tiros de fuzis, escopetas e pistolas. Mas...

Ministério da Igualdade Racial lidera ações do governo brasileiro no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU

Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, está na 3a sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU em Genebra, na Suíça, com três principais missões: avançar nos debates...

Crianças do Complexo da Maré relatam violência policial

“Um dia deu correria durante uma festa, minha amiga caiu no chão, eu levantei ela pelo cabelo. Depois a gente riu e depois a...
-+=