Em entrevista ao G1, Leonardo Nascimento disse que foi agredido por agentes penitenciários e dividiu cela com ratos. Eliane do Nascimento, mãe do DJ, pensou em tirar a própria vida.
Por Matheus Rodrigues, do G1
O DJ Leonardo Nascimento dos Santos, que foi preso injustamente por latrocínio em 2019, contou ao G1 como está recuperando sua vida um ano após ficar detido na penitenciária de Benfica, Zona Norte do Rio. Ele passou sete dias no presídio, incluindo a data de seu aniversário, por um crime que não cometeu.
Completando 28 anos nesta segunda-feira (20), ele afirmou que aprendeu a valorizar sua liberdade depois de ter passado por este “pesadelo”. Ao ser perguntado sobre o que gostaria de receber de aniversário, ele disse que já ganhou o presente.
“Meu presente de aniversário eu vou ganhar porque não tem presente melhor do que a nossa liberdade. Esse presente eu já ganhei faz um ano, ganhei novamente a minha liberdade. Meu maior presente é isso, quero continuar com ela para poder ir onde desejar sem poder ter medo e temer a ninguém. Não tem anda melhor que nossa liberdade”, disse Leonardo.
Leonardo Nascimento foi identificado como o suposto assassino de Matheus Lessa, jovem que tentou proteger a mãe durante um assalto na Zona Oeste do Rio. Ao chegar na prisão, o também eletricista recebeu ameaças, foi espancado por agentes penitenciários e dormiu ao lado de ratos.
“Quando eu voltei da minha audiência de custódia, já recebi uma ameaça e fui espancado. Eu voltei para a minha cela. Os meus companheiros de cela falaram ‘você apanhou né? Os caras te bateram’. Uns falaram para mim: ‘Se prepara porque você vai sofrer muito mais’”, contou Leonardo, explicando que as agressões foram feitas após ele denunciar maus tratos na audiência de custódia.
“Chegando no final de uma cela, ele [carcereiro] falou ‘essa aí está boa’. Assim que eu olhei para aquela cela, vi um rato enorme. Eles falaram ‘aqui vai ser sua proteção a partir de agora’. Entrando naquela cela, dava para sentir o cheiro de rato horrível. Na cama que eu ia deitar, cheio de cocô de rato”, completou.
‘Temi a morte’, disse DJ
Ao passar quatro dias em uma cela onde não era possível saber se era dia ou noite, Leonardo Nascimento temeu a morte. Ele disse que não tinha mais esperanças de sair da prisão.
“Fiquei quatro dias nessa situação, quatro dias sem poder escovar os dentes, com a mesma roupa desde o momento que fui preso. Tinha apenas um chão sujo e um pedacinho de papelão para encostar minha cabeça. Eu não podia fazer nada, eu temi a morte naquele momento”, disse Leonardo.
A retomada de sua vida começou dias depois de ser solto pela Justiça, ao conseguir um emprego. Há quase um ano, Leonardo é eletricista na SuperVia. Se antes trabalhava na noite carioca como DJ, hoje a paixão pela música acontece só aos fins de semana.
“O pessoal, no começo, perguntou se eu ia precisar de psicólogo. A SuperVia foi o meu psicólogo. Eles me deram essa força logo depois do ocorrido. Se eu estivesse em casa, com a mente fazia, sem fazer nada, poderia ser pior. Essa oportunidade de estar trabalhando ocupou a minha mente”, contou o eletricista, que ainda trabalha como DJ nos dias de folga.
Trauma na família e bons exemplos
Com a prisão de Leonardo, seus familiares começaram uma busca por provas que mostrassem a inocência dele. O pai, Jorge Benjamim dos Santos, afirmou que não conseguiu dormir e se alimentar durante os sete dias do filho preso. Já a mãe do DJ, Eliane Nascimento dos Santos, chegou a pensar em tirar a própria vida.
“Eu fiquei procurando provar que ele não era culpado. Eu também tinha que ficar cuidando da minha esposa. Ela ficou num estado de não dormir e até tirar a própria vida se a gente não conseguisse tirar ele na prisão. Ela não estava conseguindo aceitar aquilo”, contou Jorge.
“Eu não conseguia dormir porque eu usava o meu tempo para reunir provas para comprovar a inocência dele. O que tirava meu sono era ver meu filho preso sem ter culpa de nada. Fiquei desesperado”, completou.
Durante a entrevista ao G1, Leonardo disse que seus pais são “tudo” em sua vida e que espera passar os ensinamentos que recebeu do senhor Jorge Benjamim. O pai, por sua vez, ficou orgulhoso do elogio.
“O meu filho é tudo para mim. Nós criamos ele sem dar um tapa, uma chinelada. Na nossa condição de pessoas humildes e pobres, sempre ensinamos as coisas corretas. Respeitar pai e mãe, os mais velhos e até os mais novos. Ensinei ele a respeitar até as pessoas que querem o nosso mal. Hoje em dia ele tira isso como exemplo. Uma honra ele dizer que se inspira na gente pela criação que teve”, disse Jorge.
O G1 questionou a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) sobre as denúncias de agressão e celas com ratos, mas até a publicação desta reportagem não recebeu resposta.