“O tema da maternidade solo é pouco discutido em nossa sociedade. Naturalizaram essa violência. Ser mãe-solo é dar conta sozinha da carga que a maternidade traz”.
Por Mayara Penina Do Nos mulheres da Periferia
Foi por isso que o Coletivo Sasso, que atua no Grajaú, zona sul de São Paulo, resolveu produzir o documentário “Eu quero ouvir Maria”. “Produzir, fazer parte e ampliar a discussão desse tema foi fundamental para nós. Esse tema é urgente!” Muitas de nós sofremos caladas e perceber que esse filme pode contribuir para a autonomia da mulher, que pode trazer um debate dentro dos lares dessas mulheres, ou que no mínimo traga uma reflexão sobre essa violência, para nós é de extrema importância ”, contou ao Nós Mulheres da Periferia, a doula e produtora cultural Cristiane Rosa.
Cristiane é mãe-solo e uma das fundadoras do Sasso, ao lado dos irmãos Rafael Sasso e Samuel Sasso. Para produzir o filme, convidaram Marcela Camasmie e Maria Eduarda. Financiado pelo programa VAI – Valorização de Iniciativas Culturais, o filme integrou um projeto maior que incluiu um livro de fotografia dos encontros “Histórias bordadas” que foram realizados com mulheres com o objetivo de ouvir e falar sobre as experiências da maternidade.
Durante o período de produção, o grupo esteve em contato muito próximo com as mães que aparecem no filme. Elas abriram suas casas, expuseram suas feridas, contaram histórias e compartilharam dores.
“As histórias são diferentes e semelhantes ao mesmo tempo. Todos fomos tocados de alguma maneira, pois de alguma forma, para as meninas do grupo, essas histórias se assemelhavam com as delas e para os meninos trouxeram uma ruptura de pensamentos, entendimento e experiências em relação às suas companheiras, amigas, irmãs, mães e outras mulheres”, conta Cristiane.
O lançamento do filme aconteceu em março no Galpão Cultural Humbalada e reuniu mais de duzentas pessoas. Cristiane conta a repercussão: “As mães que estiveram presentes ficaram felizes com o resultado, viram que suas histórias materializavam as dores sentidas e que de alguma forma puderam contribuir para pensarmos na construção de uma criação infantil que seja mais igualitária e justa”.
Para a maioria das mulheres presentes, o documentário conseguiu trazer uma representação dessa solidão materna que todas as mães vivem. Algumas mulheres saíram bem mexidas, se identificaram com várias falas, sofrimentos e experiências vividas.
O documentário vai ser distribuído em DVD junto com o livro dos encontros “Histórias bordadas” e só será disponibilizado online após a finalização da distribuição dos materiais.