Duas pessoas são condenadas por racismo e injúria racial no DF

Ex-policial e irmã dele cumprirão a pena em regime aberto.
Cada vez mais, as vítimas estão denunciando esses crimes no Brasil.
no G1
Na semana passada, um ex-policial civil e a irmã dele receberam as maiores penas já aplicadas em crimes de racismo. A discriminação é uma prática antiga no Brasil. A novidade agora é que as vítimas denunciam o crime.
A advogada Josefina Santos, ex-secretária de igualdade racial do Distrito Federal, estava caminhando quando viu quatro jovens sendo abordados por policiais militares. Após a revista, ela foi conversar com um dos garotos que era negro e aí ouviu xingamentos de uma policial branca.
“Quando eu falei que era advogada ela falou: ‘essas neguinhas quando aprendem alguma coisa acham que é gente’”, fala a advogada Josefina Serra dos Santos.
Já para produtora de eventos, Claudenilde Chagas, o racismo aconteceu dentro de uma boate. As duas entraram na justiça contra os agressores. Elas querem a condenação criminal e uma indenização. “Ele disse para mim: você já se olhou no espelho? Você parece uma macaca. Você é feia e não é para estar nesse tipo de lugar. Eu comecei a chorar”.
Esses casos são considerados injúria racial. É quando alguém ofende uma pessoa com o uso de palavras depreciativas por causa da cor.
O crime permite fiança e tem pena de até três anos. Já o racismo é a discriminação de um grupo por causa da cor ou da religião. Acontece quando alguém é proibido de entrar em algum lugar por causa da raça, por exemplo. O crime é inafiançável e tem pena de até cinco anos.
Na semana passada, saiu a maior pena já aplicada para os dois crimes no Distrito Federal. 
O ex-policial civil Welingthon Guimarães e a irmã dele Eliane Guimarãess foram condenados por racismo e injúria racial.
Eles tiraram o sossego dos moradores da casa que fica atrás de uma oficina. O mecânico Raimundo Nonato Carvalho viu uma das ofensas. “Ele falava que não gostava de preto, entendeu”, conta.
A família registrou queixa na delegacia. As denúncias motivaram o Ministério Público a entrar com uma ação na justiça. Segundo o processo, a irmã do ex-policial xingou e ameaçou o filho do dono da casa. “Vou matar esse macaco que você chama de filho”. “Esse negro que parece um chimpanzé”.
O ex-policial passou também a amedrontar os vizinhos. De acordo com os depoimentos, ele arrombou o cadeado e invadiu o lote com uma arma na cintura e uma barra de ferro na mão e fez ameaças à família. Dentro da casa estavam a dona da casa e uma criança. Depois disso, todos decidiram se mudar às pressas.
O ex-policial foi condenado a três anos e quatro meses e a irmã a quatro anos, os dois em regime aberto.
“Esperamos que possamos chegar um dia que se vire essa página e que deixemos de ter casos de racismo e de discriminação na nossa sociedade”, fala o promotor Tiago Pierobom.
A família que foi vítima do ex-policial e da irmã dele não quis gravar entrevista. Por questão de segurança, ela teve que se mudar para outra cidade.

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