Dunga X Maria Júlia Coutinho

Pena! Lástima! Deixar a reprise da vitória de Dustin Brown sobre Rafael Nadal para, em outro canal da Net , obrigar-me a ler as ofensas racistas a Maju Coutinho, a moça do tempo no país de Dunga,  técnico da Seleção que disse gostar de apanhar como um afrodescendente e não perdeu o cargo por isso.

Por Cidinha da Silva enviado para o Portal Geledés

Se Dunga gosta de apanhar é um problema dele. O homem de confiança da CBF deve ter lá seus traumas e motivos, além da necessidade pueril de admitir o gosto esdrúxulo ao público. Mas, Dunga, deixe os afrodescendentes fora da neurose que o consome desde que Ronaldinho Gaúcho, ainda menino, pintou e bordou contigo num Grenal.

E Maju Coutinho, oh… deusas do absurdo, que crime terrível cometeu? Terá sido a combinação maviosa dos cromossomas de Dona Zilma e Seu João Raimundo que resultou nessa mulher linda, o motivo da perseguição? Ou a vida amorosa, instrutiva, incentivadora, plena de consciência racial vivida em casa e que a levou a ter um olhar doce, mas sóbrio e seguro, e um sorriso equilibrado de quem sabe que o sol brilha para todos, inclusive para os racistas, raça do caralho!

Ok. Calma. Maju, por favor, me inspire, pois Dustin Brown me aguarda. Vamos lá,  o amor na educação das crianças, no dia a dia, é que nos dá segurança para enfrentar o mundo. Maju Coutinho é uma mulher segura, é, portanto, demonstração de uma educação amorosa. Será esse o grande incômodo dos racistas que nos atacam? Eles se sentem atingidos e ameaçados pela sobriedade, beleza, competência profissional e simpatia dessa moça encantadora?

O encantamento tem sido odu de resistência na diáspora africana. Maju Coutinho parece ser sabedora disso.

O país parece viver os anos 1950 do racismo estadunidense. Os herdeiros da casa grande tupiniquim estão desesperados e saem à rua das redes sociais regurgitando ódio e perda de privilégios, baba sanguinária. Mas, estão também nas ruas das cidades grandes e pequenas, matando a pedradas e tiros de fuzis, encarcerando os que escapam da morte. Nos corredores do Congresso a casa grande legisla em favor de empresas e carteis financiadores da política nacional.

O beijinho no ombro descontrai, sai por cima. A hastag com coraçãozinho feita pelos colegas de profissão dá um alento, diz aos herdeiros da casa grande que há brancos ao lado de Maju, ela não é uma pretinha desamparada, contudo, continua sendo única e a emissora empregadora nem pensa em fazer ação afirmativa de verdade.

A casa grande precisa ser atingida por baixo, na raiz, na estrutura. Boletins de ocorrência, investigação policial do IP dos racistas digitais, criminalização da discriminação racial, atuação do Ministério Público, encarceramento dos criminosos, demissão do técnico da Seleção por justa causa (protagonismo em discriminação racial e exemplo racista dado às crianças, principalmente), ampla divulgação das ações punitivas é o que pode inibir novas práticas de racismo.

Enquanto atos racistas como o de Dunga forem minimizados por cínicos pedidos de desculpas, haverá campo fértil para ataques racistas frontais como os que se dirigiram a Maju Coutinho. Existem provas passíveis de punição e há que punir, sob pena de se alastrarem os métodos que roubam a vida de maneira literal, como nas décadas de 1910 e 1920 nos EUA, como o genocídio da juventude negra a partir dos anos 1980 no Brasil e a indústria das prisões estadunidenses que nos ronda.

O crime de discriminação racial deve ser tratado como tal.  A casa grande não pode ameaçar impunemente a vida dos negros a cada vez que saiam dos lugares de subalternidade construídos com esmero para domesticá-los.

Viva o encantamento de 2015! Dustin Brown venceu Rafael Nadal e me espera para finalizar a reprise do jogo. Maju Coutinho ainda será âncora do Jornal Nacional. Quer apostar? O direito de resposta dado a ela em rede nacional, em tempos de audiência muito baixa na TV e de Facebook que pauta as telecomunicações é um sinal.

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