É a economia, brancos!

Por trás do racismo contra Eddy Jr. e Seu Jorge há códigos de superioridade normalizados no país

“Imundo. Tu é sujo, imundo. Aqui é prédio de família, não de bandido”. Estes foram alguns dos insultos contra o humorista negro Eddy Jr., por sua vizinha branca num prédio na Barra Funda (SP). Em outros vídeos, a mulher e o filho dela aparecem com uma faca e uma garrafa na frente do apartamento de Eddy.

Imagino como reagiria a polícia se uma pessoa negra estivesse com uma faca na frente do apartamento de seu vizinho branco. “Vagabundo!”, “safado!”, “macaco!”. Estas foram as ofensas contra o cantor Seu Jorge, insultado em Porto Alegre (RS) após fala, em seu show, contra o genocídio negro. O presidente do clube gaúcho afirmou que a roupa de Seu Jorge, um moletom, dissociava “do clima do evento”. Imagino se artistas brancos já foram questionados por sua roupa, ou por pedirem para não morrer.

O humorista Eddy Júnior é ameaçado por um vizinho com faca na porta do apartamento dele na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo. — Foto: Montagem/Reprodução

O que têm em comum os dois episódios recentes —tão rotineiros quanto nossa relutância em chamá-los de racismo? Por trás da brutalidade explícita do racismo contra Eddy Jr. e Seu Jorge, o que erroneamente nos levaria a qualificá-los como episódicos, há códigos de superioridade normalizados no país: da vestimenta (“moletom”), da animalização (“macaco”), de violência (“faca”), de segregação (“prédio de família”). Beira ao ridículo ver brancos sulistas sentindo-se superiores no solo de um estado que distribuiu terras a seus antepassados, as cotas do embranquecimento. Chega a ser patético ver brancos latinos empobrecidos fantasiados de elite revoltados por coabitar com negros na cidade dos navios negreiros que trazem diariamente seus serventes, da periferia onde se morre aos 58 para o centro onde se vive até os 80 anos.

Cantor e ator Seu Jorge no Festival de Cinema de Berlim – John Macdougall – 15.fev.19/AFP

Racismo não é defeito moral, é exercício de poder do branco ressentido por ter que conviver com negros em posição que não seja lhes servindo. A violência racial anedótica ancora sua impunidade no silêncio de outros brancos no poder. Ou colocamos fogo no escravagismo —e não o faremos sem as pessoas brancas— ou o racismo perdurará. Que atirem o primeiro fósforo.

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