No dia 18 de junho, a escritora Cidinha da Silva visitou a sede de Geledés – Instituto da Mulher Negra para um bate papo sobre o seu novo livro, “Só bato em cachorro grande, do meu tamanho ou maior: 81 lições do método Sueli Carneiro”. Na conversa, a belo-horizontina falou sobre suas motivações para a escrita da obra e declarou que se trata, principalmente, de um presente para a filósofa, que completou 75 anos no dia 24 de junho.
Neste, que é o seu 23º livro, Cidinha da Silva reúne aprendizados que teve com Sueli Carneiro ao longo de quatro décadas de convivência. As 81 lições estão divididas em três partes: “lições expressas”, que foram ditas diretamente por Sueli; “pedagogia do exemplo”, com aprendizados que a escritora obteve ao observar a filósofa; e “lições do tempo espiralar”, que reúne ensinamos que teve com a intelectual, mas só percebeu na maturidade.
Fotos: Isabela Gaidis
No início do bate-papo, Cidinha relembrou como conheceu Sueli. Foi em 1988, durante uma sessão do Tribunal Winnie Mandela, ação coordenada por Sueli enquanto dirigente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, voltada para atividades do Centenário da Abolição. Nesse primeiro momento, já se impactou com a “braveza” da filósofa e com a forma intensa com que defendia suas ideias. A partir daí, a escritora passou a viajar a São Paulo (SP) para visitar a sede de Geledés e acompanhar agendas da intelectual. Em 1991, se mudou de Belo Horizonte para a capital paulista e começou a trabalhar em Geledés. Até que, entre 2000 e 2002, foi presidente do instituto.
A ideia para a produção de uma obra reunindo seus aprendizados ao longo dessa relação surgiu ao ler a biografia de Tim Maia. “O biógrafo caracterizava o jeito particular do Tim Maia fazer as coisas como ‘método Tim Maia’. Quando li, pensei: ‘ah, tem um método Sueli Carneiro também’, porque ela tem um jeito muito peculiar”, contou. A primeira aparição sobre um método Sueli Carneiro nos escritos de Cidinha ocorreu em 2014, numa das crônicas do livro “Baú de Miudezas Sol e Chuva”.
Segundo a cronista, a principal característica da pensadora é o jeito ogumnico para conduzir a vida. “Vejo Sueli como Ogum na terra. O jeito de Ogum é um jeito de quem ama guerreando. Só que não é a guerra da linha de frente, é a guerra de quem define as estratégias. Esse desenho é permeado por uma capacidade quase infinita que Sueli tem de amar as pessoas próximas, ao mesmo tempo que não a vejo alimentando ódios”, disse.
Cidinha contou ainda sobre o momento que mostrou o livro para Sueli. Ao folhear a obra, ela riu e se emocionou. A escritora aguarda agora que Sueli finalize a leitura para saber suas impressões gerais. Também relatou ter expectativa sobre a recepção do público: espera que quem conhece a intelectual se sinta motivado a pensar e compartilhar as lições aprendidas com ela e que o registro seja um meio de apresentá-la, de uma forma diferente da atual, para aqueles que ainda não a conhecem.
Questionada sobre a maior lição que aprendeu com Sueli Carneiro, Cidinha não hesitou em responder que foi a de não alimentar ilusões. “Isso é o que mais me define e eu aprendi isso com Sueli. A vida é dura e crua, tem sonhos, tem beleza. Mas, para nós que somos alvo do racismo o tempo inteiro, a forma mais eficaz de sobreviver é não alimentar ilusões. Esse foi o maior aprendizado”, disse.
“Só bato em cachorro grande, do meu tamanho ou maior” segue em lançamento. A próxima agenda acontecerá no dia 27 de junho, durante o IV Festival Casa Sueli Carneiro. Será uma roda de conversa com a autora ao lado de Luanda Carneiro Jacoel e Natália Carneiro, ambas diretoras da Casa Sueli Carneiro.