Economista francês: Reforma da previdência de Temer está na contramão do mundo

Economista e chefe do Ministério do Trabalho da França, Thomas Coutrot disse que a reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer acontece num momento em que o mundo repensa os modelos de austeridade; “Todas as reformas da aposentadoria que tiveram lugar no mundo inteiro, na Europa, principalmente nos últimos anos, tiveram o mesmo objetivo: reduzir os custos salariais porque a Previdência é financiada através de encargos sociais. Hoje em dia, o próprio FMI e a OCDE dizem que a questão da redução da massa de salários foi longe demais, houve um aumento muito grande das desigualdades sociais e agora isto cria dificuldade para o próprio crescimento econômico”.

Fonte: Brasil 247

Da Rádio França Internacional – Thomas Coutrot é economista e chefe do departamento de Condições de Trabalho e Saúde do Ministério do Trabalho da França. Ele comenta nesta entrevista a proposta de reforma da aposentadoria no Brasil, enviada ao Congresso Nacional para ser aprovada. O texto estabelece a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres se aposentarem, com um tempo mínimo de contribuição de 25 anos. As novas regras vão valer para homens com menos de 50 anos e mulheres com menos de 45.

Comparando com outros países, será que o Brasil começou muito tarde essa reforma? “Sua pergunta parte do pressuposto de que esta reforma seria justificada, seria necessária, o que é muito questionável. Na verdade, todas as reformas da aposentadoria que tiveram lugar no mundo inteiro, na Europa, principalmente nos últimos anos, tiveram o mesmo objetivo: reduzir os custos salariais porque a Previdência é financiada através de encargos sociais. Hoje em dia, o próprio FMI e a OCDE (Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) dizem que a questão da redução da massa de salários foi longe demais, houve um aumento muito grande das desigualdades sociais e agora isto cria dificuldade para o próprio crescimento econômico”, diz o especialista.

Coutrot pensa que hoje as instituições financeiras internacionais não pregam mais a redução dos gastos sociais porque se deram conta de que muitos países estão inibindo o crescimento econômico através da redução destes gastos com aposentadoria ou investimentos públicos. “Eu diria que o Brasil está fazendo essa reforma quando muitos paises estão se dando conta de que reduzir os gastos sociais, reduzir a massa dos salários, não é uma política que dará frutos no futuro”, observa.

Para o economista, não são os gastos que estão aumentando, mas os recursos públicos que estão diminuindo. Ele também explica que as pessoas com mais de 60 anos, na França, dificilmente acompanham o ritmo do trabalho e acabam tendo que se aposentar antes do tempo por problemas de saúde, pois o corpo não consegue continuar a atividade com a mesma energia de antes. “Não conseguem ficar no emprego até 65 anos. Quando o trabalho fica mais duro, é muito difícil obter resultados”, observa o economista.

 

+ sobre o tema

Musk sugere anistia para policial que matou George Floyd

O bilionário Elon Musk sugeriu repesar a condenação da...

Redução da jornada de trabalho ajudaria quebrar armadilha da baixa produtividade?

Exemplos de países desenvolvidos não dizem muito sobre qual seria...

A escalada das denúncias de quem trabalha sob calor extremo: ‘Imagina como ficam os trabalhadores soldando tanques’

Na segunda-feira (17/2), enquanto os termômetros de São Paulo batiam...

Governo divulga ações para lideranças religiosas de matriz africana

O Ministério da Igualdade Racial (MIR) apresentou para lideranças...

para lembrar

Todas as cores favoritas, a diversidade e a economia

A diversidade tem um custo. Heterogeneidade de preferências, preconceitos...

Anistia sim, impunidade não

Por: Atila Roque Em 28 de agosto de 1979 o então...

De terra e asfalto

Escritores homens são mais reconhecidos. Basta checar antologias, listas...

O Congo está em guerra, e seu celular tem a ver com isso

A Guerra do Congo é o conflito mais mortal desde a Segunda Guerra Mundial, mas recebe bem menos atenção do que deveria —especialmente se comparada às guerras...

Debate da escala 6X1 reflete o trabalho em um país de herança escravista

A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) protocolou na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (25), o texto da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que quer colocar fim à...

Não há racismo estrutural, e discriminação afeta brancos, diz governo Trump

O governo de Donald Trump considera que não existe racismo estrutural nos EUA e alerta que a discriminação é, de fato, cometida contra brancos. Numa carta escrita no dia...
-+=