Ele vai ficar sumido 30 anos, diz mulher de Amarildo em protesto no Rio

A mulher do pedreiro Amarildo de Souza, 42, desaparecido desde o dia 14 de julho, afirmou nesta quinta-feira (1º) que “não está tendo resposta alguma” em relação às buscas pelo morador da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro.

“Ninguém me fala onde está o meu marido. Nem a polícia nem o governo. Ele vai ficar sumido 30 anos”, disse Elizabete Gomes, 48. “E durante 30 anos a gente vai fechar a boca do túnel”, afirmou, referindo-se ao protesto realizado nesta noite, que fecha a autoestrada Lagoa-Barra, em São Conrado.

“Eu moro num cubículo com oito pessoas e estou sem o meu marido. A UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] entrou aqui para pegar trabalhador. (…) Eu não preciso nem achar que ele está morto. Eu sei que ele está morto”, disse. “Foi a polícia que matou o meu marido. E ainda sumiram com os documentos para dizer que ele não está morto.”

Michele disse que a família não recebeu o relatório sobre as investigações conforme havia sido prometido na reunião com o procurador-geral de Justiça Marfan Vieira nesta quarta-feira (31). O delegado Rivaldo Barbosa afirmou, segundo ela, que o mais importante nesse momento é manter sigilo absoluto em relação ao trabalho de investigação, metodologia já tradicional da Delegacia de Homicídios.

A Polícia Civil e o governo estadual do Rio anunciaram dar prioridade a este caso que causou comoção. O Ministério Público já trata o caso como homicídio.

foto

O pedreiro foi detido ao ser confundido com um traficante que comanda a Rocinha e, segundo os policiais, posto em liberdade em seguida. As câmeras da UPP da Rocinha, no entanto, não registraram a entrada ou saída de Amarildo do local. Segundo a polícia, o equipamento estava com defeito.

Protesto
Moradores e líderes comunitários da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, iniciaram, por volta das 19h, uma passeata contra o sumiço do pedreiro Amarildo de Souza, retirado da porta de sua casa no último dia 14 de julho e levado por policiais militares para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Às 21h, eles chegaram à rua Aristides Espíndola, no Leblon, onde mora o governador do Estado, Sérgio Cabral, e onde cerca de 50 pessoas estão acampadas desde a noite de domingo (28).

Os manifestantes cantavam palavras de ordem contra o governador –“Cabral bandido, cadê o Amarildo?”– e cantavam um trecho da música “Rap da Felicidade” –“Eu só quero é ser feliz, andar tranqüilamente na favela onde eu nasci”.

Durante a passeata, eles fecharam os dois sentidos da Autoestrada Lagoa-Barra e o túnel Zuzu Angel. O líder do movimento Favela Não Se Cala, André Luiz Abreu de Souza, 38, um dos grupos que convocou a passeata, afirmou que o governador Sérgio Cabral (PMDB) está “desesperado” com a repercussão midiática do desaparecimento do pedreiro.

Por: Hanrrikson de Andrade

Ato lembra desaparecimento do pedreiro Amarildo em Copacabana

Os crimes de maio e as manifestações de junho e o Amarildo: o extermínio nosso de cada dia – Por: Deivison Nkosi

Onde estão os Amarildos?

 

Fonte: UOL

+ sobre o tema

Eu era menino quando os da caserna confundiram-me com um comunista

Eu tinha pouco mais de dois anos quando raiou...

UFRJ terá primeira mulher negra como diretora da Faculdade de Educação

Neste ano, a Faculdade de Educação da Universidade Federal do...

Ditadura invadiu terreiros e destruiu peças sagradas do candomblé

Desde criança, a iyalorixá Mãe Meninazinha d’Oxum ouvia a...

Morre Ykenga Mattos, que denunciou o racismo em seus cartuns, aos 71 anos

Morreu na manhã desta segunda-feira aos 71 anos o...

para lembrar

spot_imgspot_img

Negros são maioria entre presos por tráfico de drogas em rondas policiais, diz Ipea

Nota do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que negros são mais alvos de prisões por tráfico de drogas em caso flagrantes feitos...

Um guia para entender o Holocausto e por que ele é lembrado em 27 de janeiro

O Holocausto foi um período da história na época da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando milhões de judeus foram assassinados por serem quem eram. Os assassinatos foram...

Caso Marielle: mandante da morte de vereadora teria foro privilegiado; entenda

O acordo de delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos contra a vereadora Marielle Franco (PSOL), não ocorreu do dia...
-+=