Em sala de aula, professor de Direito afirma que “mulher gosta de apanhar”

Caso aconteceu durante uma aula de um curso preparatório em Curitiba (PR). “Mulher gosta de levar porrada, não é verdade? Ela não gosta quando incha a boca, borra a maquiagem…”, afirmou, justificando depois que tudo não passava de uma “brincadeira”. Assista

Do Pragmatismo Político 

Gerou revolta, tanto nas redes sociais quanto entre coletivos de mulheres, a fala de um professor de Direito de Curitiba (PR). Durante uma aula no início do mês do Centro de Estudos Jurídicos Luiz Carlos, o professor Victor Augusto Leão afirmou aos alunos que “mulher gosta de apanhar”.

“Mulherada se acha, né, essa Lei Maria da Penha aí né, mulherada se acha, né. Gosta de apanhar ou não? Levar uns murros na boca de vez em quando? Uma joelhada, não gosta? Quebrar umas costelas, não gosta? Mulher gosta de apanhar. Mulher gosta de levar porrada, não é verdade? Ela não gosta quando incha a boca, incha o olho, borra a maquiagem, daí ela não gosta”, disse o professor a estudantes que se preparavam para um concurso público.

De acordo com a instituição, Victor Augusto Leão é formado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), com especialização em direito civil e mestre em ciência jurídica.

A fala do docente revoltou estudantes e internautas. Inúmeros coletivos de mulheres e entidades, inclusive, assinaram uma carta de repúdio contra o professor. [Confira ao final da matéria].

Após as críticas, pelas redes sociais, o professor pediu desculpas pelo gesto mas tentou minimizar, dizendo que tudo não passava de uma brincadeira.

Confira, abaixo, a nota de repúdio dos coletivos que denunciaram o caso e, na sequência, a nota de justificativa do professor.

Nota dos coletivos 

Professor debocha em sala de aula de mulheres vítimas de agressão

“Gosta de apanhar ou não? Levar uns murros na boca de vez em quando? Uma joelhada, não gosta? Quebrar umas costelas, não gosta? Mulher gosta de apanhar. Mulher gosta de levar porrada, não é verdade?”

Parece inacreditável, mas as frases foram ditas por um professor dentro de uma sala de aula. Trata-se de Victor Augusto Leão.

Um vídeo que está circulando nas redes sociais mostra o momento em que tudo foi dito.

O episódio aconteceu em Curitiba, em 2/9/17, quando ele ministrava aula no Curso Luiz Carlos sobre o Estatuto dos Servidores para concorrentes a uma vaga no TRE-PR.

A incitação à violência começou quando o professor decidiu “brincar”.

“Mulherada se acha, né? Essa Lei Maria da Penha aí.”

E, olhando para uma aluna, prossegue com as perguntas ofensivas.

No site do Curso Luiz Carlos, Victor Leão é apresentado como professor das Faculdades Guarapuava e analista judiciário na Justiça Federal de Primeiro Grau no Paraná. Também como mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí, especialista em Direito Civil pela Associação de Ensino Novo Ateneu e bacharel em Direito pela Universidade Estadual de Londrina. Trata-se de alguém que conhece as leis e suas implicações.

Não é aceitável que um professor de Direito ignore e deboche em sala de aula da alarmante estatística de violência doméstica no país. Uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de violência só no último ano no Brasil. 503 mulheres são vitimas de agressões físicas a cada hora (Datafolha. Março/2017).

Muitas dessas mulheres poderiam estar ali, ouvindo gargalhadas de suas dores. Imagine os sentimentos provocados pelo professor em quem já foi vítima ou viu a mãe, irmã ou filha ensanguentada pelas mãos do companheiro?

Após alegar que estava brincando, Vitor Leão retoma a incitação à violência. “Vamos falar agora de penalidades. Vai vir a Lei João da Lapa e revogar a Lei Maria da Penha e nós vamos voltar a descer bordoada na mulherada, tá? Porque lá em casa é assim, nesse esquema.”

Nós, mulheres brasileiras, repudiamos a postura do professor Vitor Augusto Leão. Não podemos mais aceitar que a dor e a morte de tantas mulheres ainda sirvam de motivação para piada.

Assinam este manifesto:

– ABGLT – Associação Brasileira de Lesbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais 
– AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras
– Associação Ciranda das Mulheres
– CAAD – Advogadas e Advogados pela Democracia
– Ciranda Compartilha
– CLADEM – Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher
– Coletivo Arte é Vida
– Coletivo de Jornalistas Feministas Nísia Floresta 
– Coletivo Feminista da APP-Sindicato 
– Coletivo Voz Materna
– Comissão Regional do Oeste Metropolitano de São Paulo
– CONDSEF – Confederação Servidores Federais
– CONFETAM 
– CNTSS
– CUT – Central Única dos Trabalhadores
– Deputada Federal Ana Perugini – coordenadora da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos Humanos das Mulheres
– Deputada Federal Jandira Feghali – relatora da Lei Maria da Penha
– Deputada Federal Jô Moraes
– Deputada Federal Maria do Rosário
– FASUBRA
– Federação de Mulheres do Paraná
– FESSP-ESP – Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos no Estado de SP – inclua Juneia por favor
– FENAJUD – Federação Nacional dos Servidores Judiciários
– FESEMPRE – Federação Interestadual de Servidores Públicos Municipais e Estaduais
– FETAM – RN
– Fórum Popular de Mulheres
– Frente Regional de Enfrentamento à Violência do ABC Paulista
– GETRAVI – Grupo de Pesquisa, Trabalho, Gênero e Violência Doméstica e Familiar
– Fórum Nacional de Políticas Públicas para Mulheres – Coletivo Rose Nogueira
– Mais Maria
– Marcha Mundial das Mulheres – PR
– Marcha Mundial das Mulheres – Guarapuava
– Marcha das Vadias – Curitiba
– MNU – Movimento Negro Unificado
– Movimento Médic@s pela Democracia
– Mulheres da CUT
– Mulheres do PSOL
– Mulheres pela Democracia
– Mulieribus – Núcleo de Estudos das mulheres e Relações de Gênero da UEFS
– NEPEM/UFMG – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais
– NUPRO – Núcleo de Proteção de Direitos de Mulheres e Infância
– PartidA Feminista Nacional 
– PartidA Feminista Curitiba
– PartidA Feminista DF
– PartidA Feminista Florianópolis
– PardidA Feminista Jataí 
– PartidA Feminista Minas
– PartidA Feminista Palmas
– PartidA Feminista Recife 
– PartidA Feminista Rio de Janeiro
– PartidA Feminista RS
– PartidA Feminista São Paulo
– Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos
– Rede Não Cala
– Rede Mulheres Negras do Paraná
– Senadora Gleisi Hoffmann
– Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba
– SINDSAUDE – SP
– SISPPMUG – Sindicato dos Servidores Públicos e Professores Municipais de Guarapuava.
– Todas Marias
– UBM – União Brasileira de Mulheres
– Vereadora Maria Letícia Fagundes – Curitiba/PR
– Vereadora Professora Josete – Curitiba/PR
– Vereadora Professora Terezinha – Guarapuava/PR

Nota da instituição e do professor

“Considerando-se o teor de diversos comentários nas redes sociais sobre uma aula, ministrada pelo professor Victor Augusto Leão, ele esclarece que:

O trecho do vídeo apresentado está fora do contexto de todo vídeo da aula, pois, se acaso analisado desde seu início, observar-se-ia um contexto de total descontração. Em vários momentos do trecho do vídeo divulgado frisei que estava apenas brincando, já prevendo que pessoas maldosas ou com outros desígnios deturpassem meus comentários com finalidades das mais diversas.

Era uma aula de revisão de véspera para o concurso do TRE/PR, com milhares de inscritos, e pretendi apenas descontrair o nervosismo dos alunos com brincadeiras enquanto ministrava conteúdo importante de revisão na aula.

O pequeno trecho do vídeo não retratou essas passagens, o que seria suficiente para se concluir em sentido completamente contrário ao que está exposto nos comentários nas redes sociais. Ao final, inclusive, repassei uma mensagem de Deus para acalmar os referidos alunos e tentar arrefecer seus nervos

Portanto, aferir-se qualquer conclusão assistindo a apenas um trecho do vídeo significa partir de uma premissa equivocada. É necessário assistir a todo o vídeo da aula para, a partir de uma premissa completa, concluir-se que não houve menosprezo à mulher. Houve, sim, conteúdo jurídico com descontrações.

É inaceitável e lamentável que pessoas postem comentários que denigram minha imagem nas redes sociais como se minhas brincadeiras naquela aula fossem um discurso de pregação a favor da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Não foi um discurso malignamente ofensivo às mulheres. Foram brincadeiras (expressamente destacadas), como tantos humoristas realizam. Não se pretendeu (como de fato não se fez), estimular a violência doméstica e familiar contra a mulher.

As pessoas que me conhecem sabem muito bem do respeito, amor e entrega que tenho por minha esposa e filhas, resultando em respeito e empatia para com outras pessoas.

Para se restringir apenas à sala de aula, isso é facilmente verificável com meus alunos e ex-alunos, os quais, inclusive, igualmente podem certificar meu estilo descontraído de ministrar aulas há mais de 12 anos e, também, que estimulo o respeito e a consideração às pessoas. Aliás, minhas avaliações institucionais realizadas pelos alunos comprovam cravadamente esses fatores.

É inaceitável e lamentável que pessoas postem comentários denegrindo minha imagem nas redes sociais sem conhecer o teor integral do vídeo da malfadada aula ou mesmo sem se certificar sobre quem estão falando.

Há que se considerar que não houve dolo, má-fé ou discriminação alguma contra as mulheres. O que ocorre é que houve uma divulgação de parte de um vídeo que não condiz com a realidade da aula e muito menos com meu caráter.

Não se pode perder de vista: foi um contexto pitoresco que algumas pessoas estão deturpando para disseminar seus ódios para os violentadores de mulheres, projetando tais figuras na minha pessoa.

Com efeito, repudia-se e não se compactua com qualquer espécie de violência. Existem homens que se prevalecem de violência contra a mulher. Isso é abominável!!! MAS EU NÃO SOU ASSIM.

Agora, enquadrar uma brincadeira em sala de aula nesse contexto violentador e proferir as mais variadas ofensas difamatórias é ser uma pessoa desproporcional, desarrazoada e desmotivadamente violentadora de uma didática aplicada em sala aula de cursinho e altamente ofensiva a um professor.

Isto é: não se pode, a pretexto da execrável violência contra a mulher, alçar uma brincadeira ao patamar de odioso discurso contra alguém que, em sua autonomia didática, brincou com um assunto polêmico.

Não se pode confundir brincadeira no contexto como ocorreu com discurso pregador de violência contra a mulher.

A diferença entre brincadeira e ofensa é nítida, mesmo para quem assistiu apenas parte pinçada do vídeo: basta se aperceber do destaque: “estou brincando, estou brincando”.

Não se pode chegar ao extremo de se proibir manifestações em tom de brincadeira ao argumento de ser discriminação, preconceito, ódio etc.

Há que se expandir a visão: não foi discurso de discriminação contra a mulher. Foi uma brincadeira cabível em determinado contexto. Pensar o contrário seria tolher qualquer iniciativa de deixar uma aula de revisão de véspera de concurso público menos enfadonha e improdutiva.

Perceba que no descontextualizado vídeo não há qualquer menção a fazer ou deixar de fazer isso ou aquilo. Há tão somente uma brincadeira.

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