Mulher de 29 anos estava no ponto quando foi perguntada sobre seu destino por estudante de engenharia que passava e acabou agredida; ela, que é negra e tem o cabelo curto, ainda foi chamada de Morpheus, personagem do filme Matrix
Por Bruno Inacio Do O Tempo
Uma microempresária de 29 anos foi agredida por um estudante de engenharia, da mesma idade, após se recusar a dizer pra ele para onde ia ao ser abordada em um ponto de ônibus, nesta quarta-feira (24), em Belo Horizonte. Negra e de cabelos curtos, Naiara Farias ainda foi chamada de Morpheus (personagem interpretado por Laurence Fishburne na trilogia Matrix) pelo homem, que só não a agrediu mais pois foi interpelado por um policial militar que passava na rua na hora do crime.
A jovem contou que aguardava o ônibus em um ponto, no bairro Anchieta, na região Centro-Sul da cidade, quando o suspeito perguntou para onde ela ia. “Estranhei a pergunta e questionei se ele perguntava isso a todos que ele via no ponto. Ele ficou irritado e disse: ‘Volta para Matrix, Morpheus’”.
Segundo a microempresária, outras pessoas aguardavam o ônibus no ponto, mas ninguém interveio na discussão. “Eu mandei ele parar, disse que não o conhecia e que ele estava sendo racista. Quando ele questionou quem ia parar ele, numa atitude de defesa eu bati com a bolsa nele”, afirmou.
Neste momento, de acordo com a PM, o rapaz deu um chute no rosto da jovem. Um policial militar que passava viu a agressão e acionou reforço, já que ele resistiu a prisão. O militar foi agredido na mão.
O homem foi preso em flagrante e responderá pelos crimes de racismo, lesão corporal e resistência à prisão. Na delegacia, ele disse que não era racista pois já havia namorado uma mulher negra. Disse também que, como Naiara havia batido nele com uma bolsa, o boletim não deveria ser registrado.
Dia na delegacia
A confusão aconteceu às 8h, mesmo assim, Naiara precisou passar o dia inteiro ao lado do agressor. Eles foram em até quatro órgãos de segurança da capital, até que a ocorrência foi encerrada, às 19h, na Delegacia de Plantão da Polícia Civil, no Barreiro.
“A sensação que tive nos pontos policiais é que a todo momento eu tive que provar que era mesmo a vítima”, afirmou. A PM não comentou a demora na ocorrência.