O quão bem faz um abraço de quem se Ama? E se o mundo abraçasse, com respeito, a pluralidade de expressões afetivas construídas a partir de diferentes experiências? O ensaio “aFÉto” é mais um lindo trabalho de Roger, em Olhar de um Cipó.
Por Roger Cipó, no Negro Belchior
A série fotográfica aFÉto é um registro das emoções do povo de santo e sua relação de amor com as Divindades Ancestrais Africanas, que por intermédio de seus descendentes, assumem a condição física (em transe), para dançar, encontrar e cuidar dos filhos e as filhas de Orixás, durante as cerimônias e cotidiano dos terreiros.
Mais que retratar abraços entre divindades e fiéis, aFÉto propõe um diálogo de sensibilização para a urgência de se respeitar a integridade da religiosidade negra, seus elementos e presença social, apresentando imagens reais do amor ancestral, chamadas pelo fotógrafo Roger Cipó de “a verdadeira imagem da fé do candomblé”.
“Porque quando me perguntam o que Orixá faz, eu respondo: ‘Ama.Orixá Ama!”
A intolerância e racismo religioso, males que geram violência que através da agressão de famílias, queima de terreiros, apedrejamento de crianças, criaram também, no imaginário da sociedade, imagens demonizadas e demonizadoras da relação de fé e dignidade do culto aos Orixás, inferiorizando e invisibilizando as expressões de vida existentes nesses espaços de fortalecimento identitário, resistência, auto-amor e cuidado coletivo, que resignificam os sentidos de família, a partir da cosmovisão dos terreiros de se relacionar com o mundo por meio dos orixás, ancestrais divinizados na natureza.
A série fotográfica aFÉto evidencia que o Candomblé, ao contrário do que afirma o fundamentalismo, é espaço que possibilita a reconstrução de relações sociais e afetivas de grupos socialmente violentados pela normatividade excludente de uma sociedade pouco sensível à diversidade humana. “Porque quando me perguntam o que Orixá faz, eu respondo: ‘Ama.Orixá Ama!” (Roger Cipó).