“Através da fotografia, nós conectamos as pessoas com a sua própria história e o seu próprio passado “, explicou poeticamente Amy Staples, curadora do Museu Nacional de Arte Africana do Smithsonian Institute, em Washington D.C., ao The Huffington Post.
Por Priscilla Frank, do Brasil Post
Staples refere-se especificamente à fotografia do artista nigeriano Chief Solomon Osagie Alonge. O trabalho do fotógrafo está atualmente em exposição na exibição chamada Chief S.O. Alonge: Photographer to the Royal Court of Benin, Nigeria. (“O ‘Chefe’ S.O. Alonge: Fotógrafo da Corte Real de Benin, Nigéria”) A mostra tenta contar a histórica ímpar de Alonge, que nasceu em 1911, na cidade de Benin, na Nigéria, e tornou-se o primeiro fotógrafo indígena da corte.
Antes de Alonge ocupar esse lugar, artistas importados britânicos dominavam o cenário colonial da fotografia da nação, e em sua maioria aderiam a uma estrita estética europeia.
Por outro lado, o autodidata Alonge imerso no ambiente político e social da Nigéria de constantes mudanças, estava determinado a criar uma crônica do país emergente nos seus próprios termos. Iniciando em 1933, ele imortalizou os integrantes em ascensão da corte real e da elite da Nigéria, particularmente o Círculo Social Benin – um grupo de respeitáveis homens de negócio, professores e personalidades do mundo acadêmico – confundindo a linha entre o tradicional e o moderno.
Em sua jornada fotográfica de 50 anos Alonge não só documentou a história, mas modelou as tradições fotográficas da Nigéria, dando espaço para que cada uma dessas duas realizações incidisse na outra.
“Nós adquirimos a coleção em 2009, da família de Alonge, na cidade de Benin, Nigéria, através da Dra. Flora Kaplan, professora na Universidade de Nova York”, lembrou Staples ao HuffPost.
“Ela conhecia Alonge, que tinha confiado a ela os materiais pessoalmente. Ele sabia que queria suas obras conservadas e em exibição nos Estados Unidos. Então essa é uma visão de longo-prazo que Alonge teve antes de sua morte, em 1994.”
A rara coleção de fotografias documenta pessoas, igualmente icônicas e anônimas, e que faziam parte do reinado de Benin na época em que os britânicos instalaram um novo ‘oba’, ou rei, no início do século 20 e que durou até os primeiros anos do país como estado independente em 1960 e demais.
“Ele cobriu a corte real, a família real, os festivais culturais e o oba. Sabíamos que era uma excelente coleção em termos históricos e de registro, mas a qualidade das imagens também é surpreendente”.
Alonge trabalhou com os negativos de placas de vidro da Kodak até o final dos anos 60 quando passou a usar o formato de filme em preto e branco. “Ele nunca tirou fotos coloridas, mas ele as coloria com as mãos, uma habilidade que aprendeu sozinho.
Geralmente ele só pintava com as mãos se tivesse uma relação pessoal com a pessoa fotografada e queria dar-lhe como presente. Ou se essa pessoa fosse famosa, como quando a Rainha Elizabeth se encontrou com oba Benin.”
Os retratos da elite em ascensão de Alonge são bem emocionantes e incluem imagens de oficiais de governo, professores, advogados, doutores, profissionais e homens de negócios. “Ele realmente teve dois aspectos bem diferentes do seu trabalho”, disse Staples.
“Ele foi o fotógrafo oficial da corte para o rei e isso foi um tipo de fotografia estilo documentário. Quando você começa a olhar para os retratos das pessoas, você começa a perceber a arte e a composição dos retratos que falam verdadeiramente do seu talento como artista”.
“Eu vejo mais a prática artística nos retratos de estúdio, a forma como ele colaborou com os indivíduos fotografados colocando suas mãos e pés em determinadas posições, para conseguir a melhor impressão para a imagem.
Além de obter um sentido de estilo, sofisticação e natureza cosmopolita em como as pessoas se vestem e se comportam em um retrato. Todo o processo foi bem importante em termos de caracterizar as identidades das pessoas, o seu estilo e vestimentas. A questão de como eles querem ser vistos.”
(Amy Staples)
As imagens não só capturam um olhar nostálgico do passado Nigeriano. Elas forjam uma conexão entre aquele momento e o agora, proporcionando a muitos nigerianos em seu país natal e fora uma visão histórica que eles não sabiam que existia.
“Permitiu que as pessoas se conectassem com seus familiares que não viam há muito ou talvez nem soubessem que existiam”, disse Staples.
“A exibição se tornou um lugar de peregrinação para as pessoas na diáspora. Elas vêm aqui, encontram fotos de seus familiares e, claro, começam a usarem os seus celulares, iPhones e tablets para enviar fotos de volta a Benin. Na verdade, isso está conectando e abrindo o diálogo com toda a comunidade da cidade de Benin.”
Conforme relatado no site de notícias NPR uma das pessoas fotografadas por Alonge, uma mulher de 80 anos chamada Stella Osarhiere Gbinigie, conseguiu rever o seu retrato, tirado 65 anos atrás, no Smithsonian Institute, em Washington.”Ele era um verdadeiro cavalheiro”, disse Gbinigie sobre Alonge. “Ele sempre estava calmo. Ele nos tratava como alguém de sua família, um filho, e não um cliente”.No ano seguinte, a exibição irá a Benin, e espera-se poder proporcionar a mais pessoas, aos seus amigos e familiares, uma experiência similar de compartilhamento. Sobre sua exibição nos Estados Unidos, Staples espera que retire alguns estereótipos ignorantes que persistem ainda sobre a cultura e a história africana.”Eu acho que um certo tipo de audiência americana vem à exposição com certos estereótipos sobre a África dos anos 30 e 40 e que falam de Tarzan pulando árvores, canibais e seres selvagens e nenhuma distinção entre as culturas ou etnias africanas. Acham que eram todos primitivos. Nós carregamos todos esses estereótipos conosco.”
“Uma das coisas que essa exibição faz de imediato é romper essa barreira”, disse Staples. “Nós temos essas pessoas bem cosmopolitas e bem vestidas da África entre 1930 e 1940. Isso imediatamente descarrila esses estereótipos, dissolvendo-os”.
Chief S.O. Alonge: Photographer to the Royal Court of Benin, Nigeria vai até dia 10 de janeiro de 2016 no Museu Nacional de Arte Africana no Smithsonian, Washington D.C.
(Tradução: Simone Palma)