Estudo sobre violência policial revela racismo da PM

A cada quatro mortos pela polícia, três são negros.

Homens negros, sobretudo jovens, são as principais vítimas da violência policial em São Paulo. É o que indica um estudo feito pela Gevac (Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos) da Universidade Federal de São Carlos. O resultado mostra que entre os casos de morte provocada por policiais, 61% das vítimas eram negros.

Nesse cenário, há ainda um outro dado também alarmante: 57% dos negros que morrem em ações policiais têm menos de 24 anos. Segundo a pesquisadora Jackeline Sinhoretto, responsável pelo estudo, o dado é preocupante já que, nessa idade, nenhuma outra política pública de prevenção surtiu efeito.

“A primeira intervenção de política de segurança pública, com pessoas entre 12, 14 e 16 anos, é a ação violenta da polícia”, explicou.
Para Sinhoretto, devido à discrepância do número de mortes entre negros e brancos, o racismo institucional “está claramente desenhado” e parte de dentro das corporações militares, com o pressuposto de que os jovens negros, como indivíduos, são passíveis de cometer violência.

“Não é possível, entretanto, analisar se os negros cometem ou não mais crimes”, analisa o estudo.

Esse pressuposto faz com que essas pessoas sejam mais vigiadas e, portanto, sejam mais surpreendidas ao cometerem delitos.

Crimes impunes
Apesar da violência contra negros ser maior, apenas 1,6% dos assassinatos cometidos por policiais resulta em inquérito para apurar as circunstâncias em que as mortes aconteceram.

A grande maioria dos casos é arquivada pela corregedoria, com o pressuposto de que os policiais agiram dentro da lei.

“A possibilidade de que esses policiais tenham agido com excesso de força não é sequer apurada, o que indica que há conivência das próprias agências responsáveis por fazer o controle policial”, afirma a pesquisadora.

“A polícia militar é uma das instituições mais racistas de nosso país. As centenas de mortes que ocorrem todos os dias nas favelas Brasil afora mostram que a política do governo para a população negra e pobre é apenas uma: a da criminalização. Por isso exigimos a desmilitarização da PM. Pobreza se combate com saúde, educação e emprego”, afirma o diretor do Sindicato Célio Dias da Silva.

Para o estudo, foram analisados 939 casos de ações policiais entre os anos de 2009 e 2011.

+ sobre o tema

Há uma semana: A morte pelo vírus e a morte pelo verme

Nesta pandemia de coronavírus, as coisas mudam tão rápido...

Não é cansativo? Paulo Gustavo faz ‘blackface’ e causa polêmica na internet

No último domingo, dia 12, o ator Paulo Gustavo...

Sete em cada 10 admitem diferença de tratamento para negro e branco

Cerca de 125 milhões de brasileiros reconhecem o tratamento diferente...

Recy Taylor, a mulher negra estuprada por seis brancos que nunca foram condenados

Vítima relata em documentário agressão que sofreu em 1944...

para lembrar

O arrastão de racismo no jornalismo online de A Gazeta

Nenhuma loja depredada no Shoping Vitória. Nenhum registro...

Rio Grande do Sul: Racismo dificulta rotina de pessoas negras no Estado

O estudante angolano Luíz Puati, 21 anos, está ambientado...

Dinorah, mais um símbolo do racismo brasileiro

Em seu doutorado, posteriormente livro e documentário, Joel Zito...

Streamer é vítima de racismo em jogo online e faz denúncia: ‘Preto horroroso’

O blogueiro, designer gráfico e streamer Caique Benedito, 21, fez...
spot_imgspot_img

Felicidade guerreira

Já se perguntou se você é… racista? Indago porque pessoas negras costumam ouvir com indesejável frequência perguntas iniciadas com um "Você é… (três pontinhos)" se estiverem...

Educação antirracista completa 20 anos no papel com obstáculos na prática

Em 2024, o Brasil completa duas décadas de publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História...

Uma vida dedicada a proteger mulheres nos EUA, na África do Sul e na Índia

"O patriarcado é tão profundo que se torna normalizado, invisível. Ele está sistematizado na forma como nossas sociedades tratam as mulheres", ouvi da feminista...
-+=