O jogador David Luiz escolheu esperar. Foi só a notícia ser publicada para pessoas diversas começarem a zombaria. Momentos como esse sempre me lembram da necessidade de separar a crítica estrutural do julgamento individual. Quando lutamos contra um padrão de beleza que incita à magreza, não devemos, no caminho, zombar ou condenar as mulheres magras, não é? Então.
Texto de Luciana Nepomuceno.
Penso eu que nossa crítica e nosso olhar não deve se voltar pra quem está fazendo sexo ou não, pra quem escolheu esperar ou o contrário. Meu corpo, minhas regras serve pra todo mundo, não?
Então, eu penso cá com meus botões que a sexualidade alheia não me interessa. Não devia nos interessar quem tá fazendo sexo ou não. Quem escolheu esperar, quem escolheu trepar, quem escolheu não escolher e deixar a vida levar, vida leva eu. Não me interessa se o David Luiz tá fazendo sexo, tá se preservando, ainda é virgem, etc.
Isso não equivale a ignorar que o pensamento religioso tende a afastar o sexo do cotidiano da vida seja pela sacralização, seja pela condenação. Geralmente por ambas, já que se retroalimentam. E que isso é opressor, especialmente para as mulheres, que são educadas a verem seu corpo como fonte de pecado e tentação, que são desestimuladas a conhecerem seus corpos, que são incentivadas a se culparem e a culparem as demais mulheres no que tange ao uso prazeroso do corpo.
Isso não equivale a esquecer de que uma das formas de submeter mulheres é via controle da sua sexualidade e que estamos imersas em uma sociedade onde uma mulher fazer sexo fora de determinados preceitos (monogamicamente em um casamento hetero e sem gostar muito, hein) é motivo de retaliação social que vai de denominações consideradas ofensivas: puta, vadia, biscate até justificativa pra violência: “ele bateu porque te pegou com outro?” “Se é puta não pode escolher homem”, “magina, estupro, ela dá pra todo mundo, aposto que estava gostando”.
Isso não equivale a não discutir a perseguição das organizações religiosas aos direitos das mulheres e das demais minorias. Não equivale a não entender a pressão sobre o poder público no que se refere a pautas que nos são caras como, por exemplo, aborto.
Mas, Luciana, o pessoal não é político? É sim, na medida em que nossas escolhas não são abstratas, desligadas do mundo e construídas no vácuo, mas moldadas a partir de reflexões, vivências e contextos. Ou, como disse a Camilla de Magalhães: “Sim, o pessoal é político. Mas isso não quer dizer que devemos transformar experiências pessoais em pautas políticas sem antes pensá-las para além da realidade de quem as vive”.
Então, euzinha, gosto de sexo. Faço sexo. Falo de sexo. Vou continuar por aqui, falando, fazendo, gostando. E lutando pra que quem quiser fazer, falar, gostar, esteja livre para. E quem não, também. Sem dedos apontados. Sem julgamentos. Menos fiscais da trepada alheia, mais parceiros pra trepada minha.
Fonte: Blogueiras Feministas