EUA vão investigar denúncia de retirada ilegal de útero de imigrantes detidas pelo ICE

Enviado por / FonteDo Brazilian Times

Autoridades do Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, sigla em inglês) afirmaram na terça-feira, dia 15, que o inspetor geral do Departamento de Segurança Nacional vai investigar denúncias de que mulheres imigrantes presas em um centro de detenção privado no estado da Georgia foram submetidas a histerectomias (retirada do útero) – nem sempre com informação sobre o procedimento que as impede de engravidar.

As denúncias partiram de Dawn Wooten, uma enfermeira que trabalhou no Centro de Detenção do Condado de Irwin e entregou as informações para duas organizações de defesa de direitos civis, a Project South e a Government Accountability Project.

Foram estas organizações que realizaram o pedido de investigação na segunda-feira, doa 14. O pedido foi reforçado no dia seguinte pela presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi. “Se isso for verdade, as terríveis condições descritas pela queixa da denunciante, incluindo alegações de que mulheres imigrantes vulneráveis foram submetidas a histerectomias em massa, constituem um abuso avassalador dos direitos humanos”, afirmou.

A democrata disse que as denúncias são “profundamente perturbadoras” e que remetem a tempos “sombrios” como a exploração de Henrietta Lacks – uma mulher negra cujas células eram usadas para pesquisas – e o horror das experiências de “Tuskegee” – que entre 1932 e 1972 levou cerca de 400 pessoas negras com sífilis a passar anos sem ter a doença tratada para que pudesse ser mais bem analisada.

“O Congresso e o povo norte-americano precisam saber o porquê e em quais circunstâncias tantas mulheres, supostamente sem seu consentimento, foram empurradas para esse procedimento extremamente invasivo”, concluiu.

À agência Reuters, Dawn afirmou que mulheres que reclamavam de períodos menstruais intensos ou que pediam por anticoncepcionais eram enviadas a ginecologistas fora da prisão e, algumas delas, eram submetidas a histerectomias – apesar de muitas não entenderem bem o procedimento. “Ninguém explicou a elas”, disse Dawn. Segundo a enfermeira, embora o procedimento às vezes seja indicado, “não é comum que todos os úteros estejam ruins”, em uma referência ao alto número de cirurgias. Ela afirma que entre seus colegas a prática de um ginecologista em particular para onde eram encaminhadas as detentas chamava a atenção.

Uma detenta entrevistada pela organização Project South disse que quando soube que todas essas mulheres haviam se submetido a uma cirurgia, ela sentiu que era como se fosse “um experimento em um campo de concentração”. “Era como se eles estivessem fazendo experiências com nossos corpos”, disse.

O presidente da Frente dos Congressistas Hispânicos, o democrata Joaquín Castro, destacou que esterilizações forçadas já foram utilizadas pelo governo dos Estados Unidos para controlar populações classificadas como “indesejáveis”. Castro indicou um histórico de práticas semelhantes contra populações imigrantes, povos indígenas, povos de origem mexicana, porto-riquenhos, entre outros. “Essas atrocidades não devem se repetir”, acrescentou o parlamentar.

O ICE nega as acusações. Em nota, a agência afirmou que “um procedimento médico como uma histerectomia nunca teria sido realizada contra a vontade de uma detenta”.

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