Excelência, os meninos mortos em Maceió e embalados em papel de jornal pedem socorro

por Arísia Barros

Excelência, a infância, como símbolo de descobertas e liberdade, dos jovens e meninos da capital de Alagoas está sendo, cotidianamente, forçada ao exílio da cidadania.

A morte em série de meninos e jovens é como um câncer aberto em progressiva metástase, abraçando mais e mais meninos pretos/pardos, pobres e moradores das periferias.

Os famosos PPP.

É a afirmação cada vez mais abissal que a capital das escadarias intermináveis como rota das grotas esquecidas e das mansões estonteantes faz o exercício do apartheid, a seleção desumanizadora de quem pode e deve ter direito a vida. Estamos reféns em nossa própria pátria, Excelência.

O genocídio de meninos e jovens pretos em Alagoas, sobretudo na grande Maceió está envolvido num silêncio cúmplice, como leituras públicas de concessão estatal para que a limpeza étnica se faça.

É preciso interpretar a ambigüidade dessa capital que comporta tantos veículos importados nas ruas e contraditoriamente servem de abrigo para meninos que têm “a cabeça feridenta e a alma que sangra trancafiada no abandono social”. Meninos mal despertos da infância que cheiram, fumam e se auto-mutilam a céu aberto, sob a indiferença do mundo todo. É preciso começar, urgente, a produzir soluções políticas para os meninos e jovens pretos, pobres e periféricos para que não estejam tão ,freqüentemente, presentes, como números estatísticos, nos obituários do Instituto Médico Legal.

E soluções políticas vão mais além do que polícia, cassete e viaturas. Soluções políticas exigem, uma amadurecida, interlocução entre as três esferas do poder: mais saúde, mais educação, mais direitos humanos.

Pensar o povo além das eleições.

Em Maceió uma Secretaria Municipal de Direitos Humanos ,com estrutura, profissionais habilitados para tal e orçamento já seria um bom começo para o diálogo.

A miséria, Excelência expulsa meninos e meninas de suas casas e as põem no olho do furacão: drogas, sexos e rock rol.

O crack tão propalado em programas governamentais é a mistura explosiva da ostensiva ausência de políticas públicas que garantam o bem estar da população tutelada.

Nas ruas expostos aos excrementos humanos a pureza da infância implode tornando crescente a população vitimizada pela geografia das múltiplas violências.

A bala “perdida” do racismo alagoano, que encontra eco no silêncio institucional da grande Maceió, é certeira, Excelência.

É preciso acordar para a realidade mortal que extermina, literalmente, a infância dos meninos que, ainda, dormem nas ruas, grotas, becos e vielas, em sacos de cimento.

As famílias do muitos, vários e tantos meninos e jovens pardos/pretos/pobres e periféricos da grande e rica Maceió querem uma paz que não faça trilha no cemitério.

Os meninos mortos em Maceió e embalados em papel de jornal pedem socorro.

Socorra-os, Excelência!

 

Fonte: Raízes da África

+ sobre o tema

Mano Brown pede desculpas a Camila Pitanga após chamá-la de ‘mulata’

Mano Brown utilizou as redes sociais hoje para se...

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

para lembrar

Mano Brown pede desculpas a Camila Pitanga após chamá-la de ‘mulata’

Mano Brown utilizou as redes sociais hoje para se...

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...
spot_imgspot_img

Mano Brown pede desculpas a Camila Pitanga após chamá-la de ‘mulata’

Mano Brown utilizou as redes sociais hoje para se retratar com Camila Pitanga e o pai da atriz, Antônio Pitanga, depois de uma declaração...

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...