“Falar de intolerância é fundamental, pois ela é o maior mal dos novos tempos”, diz Susanna Lira, cineasta

Artigo produzido por Redação de Geledés

Em tempos de ascensão da intolerância no Brasil, os filmes e séries da cineasta Susanna Lira se tornaram mais do que relevantes. São hoje urgentes. Ativista e pós-graduada em Direitos Humanos, Susanna é responsável pelo documentário Intolêrancia.Doc que deu origem à série televisiva Rotas de ódio, com roteiro de Marcos Borge e Bruno Passeri. A série entra em sua segunda temporada falando sobre racismo e xenofobia. A jornalista e crítica Cristina Padiglione descreveu-a como um “necessário soco no estômago”..

Nesta entrevista à coluna Geledés no debate, Susanna relata como se envolveu com a luta contra os crimes de ódio. Ela ainda dirigiu dois filmes sobre as Mães de Maio, que perderam seus filhos no massacre de 2006.

Foto: SOFIA PASCHOAL

Geledés – Seus filmes são sempre em torno das ondas crescentes de intolerância sexual, religiosa e social. Por que tratar desses temas e qual a relação entre sua vida pessoal e os Direitos Humanos?

Desde que comecei a fazer documentários, priorizei as questões dos Direitos Humanos. Quero filmar o que me inquieta e essas questões são urgentes e necessárias. Fiz uma pós-graduação em Direitos Humanos para poder falar com propriedade sobre o assunto. Ao longo dessa jornada, só vejo mais violações dos direitos das minorias e é isso o que me move: nunca vou  desistir de filmar como uma forma de resistência.

Geledés – A que atribui esse aumento de ondas de violência contra gays, negros e mulheres no Brasil nos últimos tempos?

Atribuo a onda de violência contra as minorias à ascensão de políticos que propagam o ódio. Estou preocupada com o futuro do país e como seremos como sociedade se não dermos um basta a essa onda de Intolerância.

Geledés – O seu documentário Intolerância teve grande repercussão no país. O que significa esse termo para você e como recebeu a repercussão do documentário?

Falar de intolerância é fundamental, pois é o maior mal dos novos tempos. O documentário teve repercussão sim, pois infelizmente é um retrato cru e ácido do que vemos nas ruas.

“Ao longo dessa jornada, só vejo mais violações dos direitos das minorias e é isso o que me move. Nunca vou desistir de filmar como uma forma de resistência.”

Divulgação / GloboFilmes

Geledés – Como foi lidar com os grupos de ódio na época da filmagem? Recebeu algum tipo de ameaça?

Sempre tive bastante cuidado e precaução ao lidar com grupos que propagam o ódio. Nunca sofri ameaça porque desde sempre me apresentei de forma honesta e transparente, respeitando os indivíduos, embora discordasse totalmente das opiniões preconceituosas e conservadoras.

Geledés – Como analisa o Brasil nesse momento tão polarizado em que esses grupos de ódio ganharam voz nas mídias sociais?

Infelizmente os grupos de ódio se propagam se apoiando em notícias falsas para acentuar pensamentos fascistas. A forma como espalham mentiras e opiniões racistas é criminosa e infelizmente não vemos a justiça agir.

Divulgação / Universal

Geledés – Por que resolveu passar da produção de documentários para a série de ficção Rotas de Ódio?

O que eu não consegui retratar no documentário Intolerância. Doc pode ser visto com clareza na série de ficção. Eu tinha uma pesquisa de quatro anos sobre crimes de ódio e investi nesse trabalho para transportá-lo à ficção. Acho que dessa forma consigo alertar um maior número de pessoas sobre o perigo que estamos vivendo numa sociedade que se mostra cada vez mais preconceituosa.

Geledés – Como será a segunda temporada?

A segunda temporada trata de xenofobia e racismo. O universo de refugiados em São Paulo será retratado de forma bastante real e visceral.

Geledés – Você também fez o documentário “Não saia hoje” sobre a trajetória de mães que perderam seus filhos durante o massacre em 2006 que matou mais de 500 pessoas. Por que escolheu esse título e qual a mensagem que o filme traz sobre o massacre?

Fiz dois filmes sobre a luta das mães de maio: Não saia hoje e Mataram nossos filhos. Ambos retratam o extermínio da juventude negra e a violação do Estado contra jovens e mães que perdem seus filhos todos os dias e não recebem nenhum amparo do Estado. A mensagem é que a impunidade dos perpetradores desse tipo de violência alimenta uma sociedade homicida e racista. Apesar disso, temos que ser fortes e não desanimar com o estado das coisas. Resistiremos sempre a toda forma de opressão. Eu filmo para viver e resistir!

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