Falta empatia para entender a Revolta dos Negros

FOI EM UMA SALA para não mais do que 30 pessoas que, há alguns dias, assisti ao filme “O Nascimento de uma Nação”, do diretor, roteirista e ator Nate Parker. Ganhador dos prêmios de melhor filme do júri e do público no Festival de Sundance, despontou como forte candidato ao Oscar de 2017. O nome faz alusão ao filme homônimo de 1915, de David W. Griffith –  uma ode à Ku Klux Klan e tido como um dos mais racistas da história.

Por Ana Maria Gonçalves, para The Intercept Brasil

Antes de sair para o cinema, como sempre, tento ler a sinopse e alguma crítica sobre o que vou assistir. Um dos artigos que li foi “’O Nascimento de uma Nação’ traz polêmicas dentro e fora da tela”, publicado em novembro, no G1.

Já vinha acompanhando a polêmica em torno de Nate Parker, mas me chamou atenção, antes mesmo de ver o filme, a palavra “violenta/o” empregada em duas ocasiões e apenas em relação a negros. Primeiro, a crítica a emprega ao falar da história, contada “do ponto de vista de artistas negros”, da rebelião de escravos ocorrida em 1831 e liderada por Nat Turner (personagem de Nate Parker), e a usa novamente ao falar da “violenta reação do ano passado ao “Oscars so White” – que também foi encabeçada por artistas negros por não haver atores/atrizes e diretores/as negros/as entre os indicados.

A crítica vê violência não no sistema escravagista, mas na reação dos que a ele foram submetidos; a crítica vê violência não no processo de exclusão de artistas negros das grandes produções hollywoodianas e nos comentários racistas que tentaram justificá-lo, mas na crítica a essa exclusão. Ao transferir para os negros a responsabilidade de toda a violência, o que a crítica não ousa dizer: falta conhecimento e empatia para entender as reivindicações e os trabalhos de artistas negros, sobretudo quando falam de si e/ou para si, e quando reivindicam direitos e posicionamentos que apontam o privilégio branco.

Leia a reportagem completa no The Intercept Brasil.

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