Por: NOELI MENEZES
Cogitado para vice na chapa de José Serra (PSDB) à Presidência, o senador Francisco Dornelles (PP), autor de emenda do projeto Ficha Limpa, negou ter feito alteração para beneficiar o deputado Paulo Maluf (PP). “Não sou malufista.” Dornelles reafirmou que a mudança serviu para unificar tempos verbais diferentes. Deputados afirmam, porém, que, com a mudança, só políticos condenados depois da aprovação serão atingidos. Dessa forma, quem já foi condenado por um colegiado, como Maluf, não ficaria mais inelegível.
FOLHA – Por que o sr. não fez a unificação com os verbos no passado ao invés de no futuro, evitando a polêmica sobre a abrangência da lei?
FRANCISCO DORNELLES – Isso não tem nenhuma base jurídica. Unificar para o retroativo? A lei não pode ser retroativa. Se fizesse isso, estaria prejudicando pessoas. Mas a minha opinião independe da emenda. O problema do projeto é que precisava de uma unificação.
FOLHA – O sr. fez essa emenda a pedido de alguém?
DORNELLES – Não.
FOLHA – Sem a emenda, a lei poderia atingir Maluf. Agora a mudança poderá beneficiá-lo. O sr. fez essa emenda para favorecê-lo?
DORNELLES – Não sou malufista. Até gosto do Maluf pessoalmente, mas estava no colégio eleitoral para apoiar Tancredo Neves. Ninguém pode personalizar uma emenda.
FOLHA – Para alguns, a alteração permite que mais políticos com “ficha suja” fiquem livres nas eleições.
DORNELLES – Eu não vou discutir o sentido da lei. Só posso dizer que, se eles ficarem livres, não será por causa da emenda, que é puramente de redação. O projeto precisava de coerência.
FOLHA – O sr. acha que essa emenda pode prejudicar a sua imagem caso venha a ser vice do Serra?
DORNELLES – É um assunto que não comento, é especulação.
FOLHA – O sr. gostaria de ser o vice do Serra?
DORNELLES – Seria deselegante dizer que quero ou não uma coisa que nunca me foi colocada. Em política, eu jogo com fato concreto.
Fonte: Folha de S.Paulo