Fotógrafa é alvo de ataque racista e faz denúncia em Cuiabá: ‘Mucama, saco de lixo, preto não é gente, crioula maldita’

Enviado por / Fontepor André Souza no G1

Mirian Rosa, de 32 anos, registrou boletim de ocorrência nesta quarta-feira (2) após receber áudios racistas na terça-feira (1º). O autor do ataque teria usado o telefone celular de uma antiga amiga dela.

Alvo de ataque racista, a fotógrafa Mirian Rosa, de 32 anos, registrou um boletim de ocorrência nesta quarta-feira (2) após receber áudios em que é chamada de ‘mucama’, ‘saco de lixo’, ‘crioula maldita’ entre outros xingamentos. Os áudios, segundo a fotógrafa, foram enviados pelo WhatsApp, na terça-feira (1º).

O autor do racismo teria usado o telefone celular de uma antiga amiga dela para gravar os áudios. A partir da denúncia da vítima, o crime deve ser investigado pela Polícia Civil.

Nas mensagens dirigidas à ela, o homem é agressivo e ofensivo. Entre os inúmeros xingamentos, a chama de crioula maldita.

“Desde quando preto é gente? Vou falar uma melhor: quem é você na fila do açougue? Eu vou responder para você: pobre não come carne. Então, nem na fila do açougue você entra, crioula maldita”, diz o homem num dos áudios.

Ao G1, Mirian afirmou que conheceu o autor das mensagens por meio de um grupo de amigos dela, mas não teve nenhum contato com ele depois dessa reunião.

“Ele saiu com uma amiga em comum e sentamos juntos em um bar. Vi que ele ficou incomodado com a minha presença, mas no dia não passou disso”, contou.

As mensagens racistas chegaram até Mirian depois que ela ignorou um áudio da antiga amiga. No áudio, a mulher criticava o cabelo da fotógrafa.

Em seguida, outros áudios do homem foram encaminhados. Neles, ele chama a fotógrafa de escrava e pergunta qual o preço dela no mercado.

“Quero saber se você tem dono ou não. Fui no mercado de escravo no Porto e não vi nenhuma escrava no seu valor. Quero comprar uma escrava, mucama, cozinheira, faxineira ou algo assim para minha casa. Quero ver a crioulada trabalhar para mim”, continuou.

Os ataques e ofensas continuram em outras mensagens recebidas.

Mirian Rosa, de 32 anos, registrou boletim de ocorrência após receber os áudios (Foto: Facebook/Reprodução)

“Pode dar tiro em crioulo, tacar fogo ele não sente nada. A única coisa que crioulo sente é ele no tronco e o chicote nas costas”.

Num dos últimos áudios, o homem ironicamente convida Mirian para um churrasco. “É o seguinte: vou queimar uma carne lá em casa. Preciso de você, como a matéria: o carvão e o saco de lixo para recolher o que restar”, diz.

Mirian contou que essa não é primeira vez que é vítima de racismo. Em outra situação, o vendedor de uma loja da região central a ofendeu. “Não consegui mais passar perto do local. Fiquei três semanas doente em casa”, disse.

O ataque recente a fez relembrar a situação.

“As outras vezes eu deixei passar, mas esse mexeu muito comigo. Achei que fosse passar por tudo de novo. E, basicamente, por alguém que se acha superior por causa da cor da pele”, declarou.

+ sobre o tema

Brizola e os avanços que o Brasil jogou fora

A efeméride das seis décadas do golpe que impôs...

Milton Nascimento será homenageado pela Portela no carnaval de 2025

A Portela, uma das mais tradicionais escolas de samba...

Saiba os horários das provas do Concurso Nacional Unificado

Os mais de 2,5 milhões de candidatos inscritos no...

Aluno africano denuncia racismo em mensagem com suásticas nazistas na UFRGS; polícia investiga

Um estudante africano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul...

para lembrar

Graça Machel entre os 100 africanos mais influentes do continente

Pelo quinto ano consecutivo, a  New African, uma revista africana,...

Guerreiro Ramos, pioneiro nos estudos do racismo no Brasil

Não foram poucas as controvérsias protagonizadas, em vida, pelo...

Universidade Johns Hopkins em Baltimore cria “Bolsa de Estudos Marielle Franco”

O Programa de Estudos Latino-Americanos (LASP) da Escola de...

O Discurso de Angela Davis na Women’s March (tradução)

No dia 21 de Janeiro, centenas de milhares de...
spot_imgspot_img

Aluno africano denuncia racismo em mensagem com suásticas nazistas na UFRGS; polícia investiga

Um estudante africano da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) denunciou um episódio de xenofobia e racismo dentro da Casa do Estudante Universitário (CEU), uma moradia estudantil mantida...

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Morre Ykenga Mattos, que denunciou o racismo em seus cartuns, aos 71 anos

Morreu na manhã desta segunda-feira aos 71 anos o professor, sociólogo e cartunista carioca Bonifácio Rodrigues de Mattos, mais conhecido como Ykenga Mattos. Vítima...
-+=