Frente religiosa é criada em Nova Iguaçu, segunda cidade do estado com mais casos de intolerância

Grupo quer organizar uma caminhada

por Cintia Cruz no Extra

Frente Respeitem o Nosso Sagrado quer atrair mais religiosos e realizar caminhada contra a intolerância religiosa ainda este ano Foto- Cléber Júnior : Agência O Globo
Frente Respeitem o Nosso Sagrado quer atrair mais religiosos e realizar caminhada contra a intolerância religiosa ainda este ano Foto- Cléber Júnior : Agência O Globo

Só este ano, Nova Iguaçu teve dois dos quatro casos de intolerância religiosa no estado do Rio. Desde 2017, a cidade tem o maior número de casos na Baixada Fluminense — e o segundo maior no estado, segundo estatísticas do Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa. Diante desse quadro e na mesma semana que um terreiro de candomblé foi invadido por traficantes, no bairro Ambaí,religiosos do município decidiram criar um grupo de atuação para impedir novos casos.

A frente Respeitem O Nosso Sagrado reúne líderes de religiões de matriz africana do município de Nova Iguaçu. Entre as propostas, estão a de uma caminhada contra a intolerância religiosa, nos mesmos moldes da que acontece em Copacabana, na Zona Sul do Rio.

— Não adianta ser uma marcha só nossa. Tem que ter a participação de líderes de diferentes religiões para que os outros sejam conscientizados e sirva de exemplo — avaliou Iyá Nádia de Oya, pedagoga e sacerdotisa do Ilê Axé Ki Ifé Orixá, no bairro Palmares.

O ator Wildson França, de 38 anos, que é candomblecista, disse que este é o momento de religiosos se unirem contra os ataques:

— Atos de violência estão ocorrendo contra casas de matriz africana e isso não pode ficar desse jeito. Casas tradicionais não podem ser depredadas. As pessoas têm direitos a culto e o país é laico. A constituição ainda garante o direito a cultos. A religiosidade é livre a todos os cidadãos.

Apesar de ser encabeçada por religiosos, a frente busca apoio junto ao poder público. A Casa de Cultura de Nova Iguaçu vai inscrever religiosos interessados em compor o grupo. O espaço também vai sediar seminários para discutir o racismo religioso.

— Estamos nos debruçando para criar minuta da lei de registro de patrimônios de natureza imaterial. Em relação aos terreiros, acho que o registro seria mais adequado porque protege aquilo que os terreiros simbolizam — explica o subsecretário de Cultura de Nova Iguaçu, Augusto Vargas.

Há uma proposta de parceria da frente também com a Secretaria municipal de Educação, para que, de fato, seja aplicada nas escolas a Lei 11.645 (que altera a 10.639) e torna obrigatório nas escolas o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena em todas as escolas.

Em 2017, terreiro foi invadido pela primeira vez; traficantes destruíram objetos sagrados e fecharam o espaço por três meses Foto- Arquivo pessoal / Extra

— Na prática, a lei não é aplicada. A ideia é abordar em sala de aula a construção da identidade africana e afro-brasileira — explica o professor de História da Arte, pedagogo e candomblecista Wellington Jorge Martins da Silva, de 34 anos.

Segundo o Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa, em 2017, foram 92 casos de intolerância religiosa. Desses, o município do Rio teve 49 e, em seguida, Nova Iguaçu com 12. Em 2018, foram 104 casos. Os municípios do Rio de Janeiro e de Nova Iguaçu continuaram liderando no estado, com 51 e 9 casos respectivamente. Este ano, houve quatro casos: um em São Gonçalo, um no Rio e dois em Nova Iguaçu, informou o conselho.

O mais recente em Nova Iguaçu foi na última segunda-feira, quando quatro homens pularam o muro de um terreiro, em Ambaí, e depredaram o local. Foi a segunda vez que o terreiro foi invadido, em dois anos. A primeira foi em 2017. Na quinta-feira, dois homens foram presos dentro do terreiro por agentes da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) e por PMs do 20º BPM (Mesquita).

— Na Baixada, há facções criminosas que perseguem as religiões afro, e há uma enorme concentração de terreiros. Estas duas realidades nos ajudam a compreender esta lógica cruel — explica o presidente do Conselho Estadual de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa, Márcio de Jagun.

No dia 8, haverá reunião na Casa de Cultura de Nova Iguaçu, às 17h, com integrantes da frente. Religiosos de matriz africana podem comparecer. A Casa de Cultura fica na Rua Getúlio Vargas, 51, Centro.

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