Piada racista de universitário no Facebook poderá gerar responsabilização criminal
por Paulo Victor Fanaia Teixeira no Olhar Direto
“Gosto muito de negros, tenho amigos negros e tal. Só fico triste porque pararam de vender”. A postagem racista foi feita via Facebook pelo calouro de Agronomia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), identificado como D.C. A postagem, feita na noite desta quarta-feira (12), ganhou rápida repercussão com compartilhamentos e comentários e provocou revolta entre os movimentos negros. Para Zizele Ferreira dos Santos, professora, mestre em educação, pesquisadora sobre juventude e Coordenadora do “Coletivo Negro”, a mensagem trazida pelo calouro sugere a volta da escravidão, reproduz um racismo que precisa ter fim e deve gerar responsabilização criminal.
“Acabei de receber postagens de uma menina pedindo que a gente tivesse uma abordagem ‘humanista’ que ‘sempre fez estas brincadeiras mesmo’, que ela é negra e sempre reclamou com ele sobre estas postagens, mas que ele não liga, que ele ‘está com medo de chegar à UFMT, pois é calouro ainda’. Ele fará agronomia 2017.01 e está preocupado com a recepção que terá e ela com os ‘danos psicológicos’ que ele poderá sofrer. É um absurdo, ela nos dá detalhes sobre o que ele diz e como ele se comporta. É um menino inconsequente e racista”, comentou a pesquisadora ao Olhar Direto.
As ofensas foram veiculadas por volta das 19h desta quarta-feira (12). Em menos de 10 minutos, 24 pessoas curtiram a postagem, 29 comentaram e uma pessoa compartilhou. Após mais 09 minutos, outras 14 pessoas curtiram, 10 comentaram e 01 compartilhou. Alguns de seus contatos comentaram rindo e pedindo que novos comentários fossem postados.
“Não é uma frase isolada ou uma piadinha que ele pegou (pois esta frase racista é tida como piada há muito tempo), ele está reproduzindo algo e a amiga (que é negra) não se vê nessa situação (o que é pior). Ela já falou para ele várias vezes que se sente incomodada, mas que ‘ele é assim mesmo’. Isso tem sido crescente UFMT, essas brincadeiras cibernéticas homofobias e racistas veem crescendo. Além disso, destaco os comentários feitos no posts, são sempre no sentido de estimulá-lo a postar mais e aí quando ele é condenado, as pessoas ficam com dó. Nós estamos formando uma geração de jovens racistas e homofobicos, isso é grave”, avaliou a professora.
Esta não é a primeira vez que postagens racistas são feitas no Facebook por jovens cuiabanos. Em novembro do ano passado uma publicação feita pelo estudante de Direito H.R., causou revolta entre integrantes da comunidade acadêmica da Universidade de Cuiabá (Unic), campus Sorriso. Na imagem, seguida de uma legenda com palavra de baixo calão, uma mulher negra serve como pano de fundo para os dizeres “Não é só porque você é negra, que somos obrigados a te achar linda.” Um pedido de desculpas foi feito e o material apagado da rede social, no entanto, a situação ganhou repercussão e alguns alunos pedem por medidas mais severas.
No início deste ano, a cantora mirim Franciele Fernandes, uma das participantes do programa The Voice Kids, sofreu agressões verbais nas redes sociais e o caso provocou revolta em representantes do movimento negro e estudiosos de questões étnicos raciais de Mato Grosso.
“O racista se incomoda com o sucesso dos negros. Porque essas personalidades estão justamente mostrando a beleza do negro. Pessoas como a Franciele, a Thaís Araújo e cantora Ludmila são artistas que não têm vergonha de sua cor, do seu cabelo e da sua raça. E isso incomoda muito”, comentou o ativista Manoel Silva, membro do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial.
“Naturalizar o racismo é estratégia de morte, de violências inimagináveis na vida dos diferentes povos. A luta dos nossos pela criminalização do racismo no Brasil há décadas não foi em vão. Isso não foi uma brincadeira, racismo é crime e a incidência entre a juventude revela que medidas urgentes precisam ser tomadas por diferentes instâncias. Por outro lado, temos uma juventude combatendo o racismo no meio virtual e fora dele, uma juventude que se viu violentada na infância e que quebra o acordão de que no Brasil os diferentes grupos raciais convivem em harmonia. Somos mais uma geração da resistência negra brasileira”, finalizou a pesquisadora.
O outro lado:
Olhar Direto procurou no Facebook o perfil D.C. para contato, a fim de ouvir sua versão dos fatos, mas sem sucesso. Os perfis autores dos comentários da postagem foram encontrados, mas não constam D.C. entre seus “amigos”. Ao que tudo indica o perfil foi excluído ou suspenso da rede social.
Nota do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMT emitiu nota nesta quinta-feira (13):
O Racismo é um dos tipos de discriminação ainda presentes no Brasil, nossa formação colonial escravista deixou de herança uma abominável e inaceitável idéia de inferioridade dos negros, essa discriminação se expressa nos altos índices do extermínio da juventude negra na periferia na falta de acesso dos negros a educação em todos os níveis e em especial no nível superior. Apesar de injuria racial ser considerado crime e de termos conquistados políticas importantes nos últimos anos fruto da luta do movimento negro, como as ações afirmativas que tem promovido o acesso de muitos negros a universidade e o estatuto da igualdade racial, o racismo persiste em oprimir a presença dos negros em todos os espaços. Na universidade não é diferente, diversos casos de racismo tem ocorrido na UFMT na maioria deles envolvendo professores e estudantes o que demonstra o quão Racista a universidade ainda é, ao não aceitar a presença de estudantes negros, é mais que evidente que a presença dos negros na universidade incomoda muitos que ainda não aceitaram que a universidade se popularizou, as cotas estabeleceram um recorte de 50% de estudantes de escolas publicas sendo 20% de negros isso provocou uma mudança no perfil dos estudantes que passa a ter mais negros que reivindicam sua identidade que usam turbante e cabelo Black e se organizam enquanto movimento negro na luta contra o racismo na universidade. Um ultimo caso de um estudante da UFMT que postou no facebook a seguinte frase : “Gosto muito de Negros tenho amigo negros e tals. Só fico triste porque pararam de vender”. Essa frase racista expressa um pensamento ainda presente na nossa universidade, pois quando um estudante profere tamanha ofensa e discriminação atinge a todos os estudantes negros muitos os primeiros da família a acessar a universidade pela herança do processo de escravidão que vendia negros como se não fossem seres humanos, um estudante ao lamentar não poder comprar um escravo é uma atitude racista que não deve ser tolerada nem considerada brincadeira, chega de racismo na UFMT O Diretório Central dos Estudantes DCE- Gestão Recomeçar repudia todo ato de racismo e se compromete em realizar uma campanha como a que realizamos contra o machismo no mês da Mulher também contra o racismo na UFMT acompanhado os casos envolvendo estudantes e professores, realizando debates e cobrando da universidade que se crie uma secretaria de combate as opressões que fiscalize os casos de racismo , machismo e homofobia na universidade, não podemos mais aceitar atitudes racistas como essa em nenhum lugar mas principalmente em uma universidade publica construída com sangue e suor do povo negro que merece respeito e dignidade , racistas não passarão ! chega de racismo na UFMT !
#RACISTASNÃOPASSARÃO
#CHEGADERACISMONAUFMT
#DCEDEVERDADE
Diretório Central Dos Estudantes 13 de abril de 2017