Governo dos EUA premia brasileiro, Babalaô Ivanir dos Santos, por luta contra intolerância religiosa

Babalaô Ivanir dos Santos é homenageado junto a ativistas de outros quatro países

por João Perassolo no Folha de São Paulo

O líder espiritual e professor da UFRJ Ivanir dos Santos recebe, nesta quarta (16), em Washington, um prêmio pela trajetória na luta contra a discriminação sofrida por praticantes de religiões de matriz africana no Brasil.

Santos é homenageado –junto a lideranças de outras quatro nações– na edição inaugural de um prêmio internacional que reconhece ativistas que lutam pela liberdade religiosa, promovido pelo Departamento de Estado americano.

A honraria reconhece seu “trabalho exaustivo no apoio ao dialogo inter-religioso” e os esforços em criar “mecanismos para a proteção de grupos vulneráveis”, segundo o site do International Religious Freedom Award.

Também serão agraciados o advogado sudanês de direitos humanos Mohamed Yosaif Abdalrahan, a líder espiritual nigeriana Imam Abubakar Abdullahi, a mediadora do diálogo entre religiões no Chipre Salpy Eskidjian Weiderud e o casal fundador da ONG iraquiana de defesa dos direitos humanos HHRO, William e Pascale Warda.

“O que não se consegue dialogar no Brasil de hoje vai ter um diálogo nos Estados Unidos, mediado pelo governo americano: intolerância religiosa e estado laico”, diz Santos. Ele afirma também estar surpreso com a escolha de “um negro não cristão” para o prêmio.

Segundo o babalaô (sacerdote do culto de Ifá no candomblé), não se trata de reconhecimento pessoal, “mas de uma causa, de muita gente”. “Querendo ou não é o reconhecimento de um grupo [religioso] minoritário, sempre perseguido na colônia, no Império e na República pelos neopentecostais. Vamos ter uma voz forte e com repercussão internacional.”

Filho de uma doméstica e de um operário, Santos nasceu em 1954 na extinta Favela do Esqueleto, na zona norte do Rio de Janeiro. Depois que sua mãe foi assassinada por policiais, quando era criança, foi viver em internatos, onde ficou por 12 anos.

Leia também no #GELEDESNODEBATE: O racismo e o desconhecimento sobre as culturas e espiritualidades dos africanos

Ao sair, percebeu que jovens negros e oriundos de favelas como ele tinham dificuldade em conseguir emprego. Criou com um amigo a Associação dos Ex-Alunos da Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor), um dos seus primeiros atos na defesa de grupos marginalizados.

Graduou-se em pedagogia e fez doutorado em história na UFRJ, instituição na qual leciona desde 2015. Em 2008, fundou a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, depois de um episódio em que praticantes da umbanda e do candomblé foram expulsos de seus terreiros pelo crime organizado na Ilha do Governador.

A convite da ONU, viajou para diversos países fazendo palestras sobre democracia racial e extermínio de crianças e jovens negros no Brasil, além de ter criado a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, que chega neste ano à 12ª edição, em Copacabana.

O evento de premiação se estende de terça (16) até quinta (18), na capital americana, e conta com a presença de líderes políticos e representantes da sociedade civil de mais de 140 países. A ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) confirmou participação.

Os vencedores receberão um troféu na quarta (17), em cerimônia com a presença do Secretário de Estado, Mike Pompeo,

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