Movimento negro faz denúncia internacional dos decretos de armas de Bolsonaro

Documento foi protocolado nesta madrugada junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), com sede em Washington, nos Estados Unidos

Texto Lucas Veloso | Edição e Imagem Pedro Borges, do Alma Preta 

Bancada dos integrantes do Movimento Negro
(Foto: Imagem retirada do site Alma Preta)

Para denunciar violações de direitos humanos nas propostas que visam facilitar o acesso ao porte e a posse de armas por parte da população, promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro, o Movimento Negro enviou documento à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), em 11 de julho, quinta-feira.

O texto, elaborado por organizações, grupos e coletivos da sociedade civil e representantes da população afro-brasileira e periférica, aponta fatores de risco nas propostas que tramitam no Congresso Nacional.

“Em 2017, enquanto a violência letal contra brancos diminuiu, a contra negros aumentou. Isso é inaceitável do ponto de vista de uma sociedade democrática. Enquanto não houver um olhar racial para a questão da violência, a escalada continuará”, diz o documento.

Para a integrante da Educafro, Silvia Souza, a denúncia é um passo importante para a manutenção da democracia brasileira e, também, para impedir mais violações de direitos.

“É essencial levar ao conhecimento dos órgãos internacionais as arbitrariedades que ocorrem no âmbito legislativo do Brasil, principalmente no que tange a edição de sete decretos, em seis meses, sobre porte e arma de fogo”, define Silvia.

Silvia Souza- mulher negra de cabelo trançado, vestindo jaqueta branca- lendo um documento ao lado de Douglas Belchior- homem negro, vestindo palitó e boné cinza
Silvia Souza é uma das atriculadoras de ações nacionais de incidência do movimento negro. (Foto: Imagem retirada do site Alma Preta)

Criada na década de 1950, a CIDH é uma entidade autônoma da Organização dos Estados Americanos (OEA), que se encarrega da promoção e proteção dos direitos humanos em todo o continente americano.

Em maio, o movimento negro brasileiro também participou de audiência com a Comissão Interamericana, na cidade de Kingston, Jamaica. Na ocasião, o tema foi o pacote de segurança pública do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Estavam presentes, além de lideranças negras e membros da comissão americana, representantes do governo brasileiro.

Já em junho, organizações do movimento negro também foram à Brasília para se reunir com o presidente do Senado, David Alcolumbre, e discutir a possibilidade de presença dos coletivos nos debates sobre as medida propostas por Moro. Alcolumbre garantiu que haverá a participação do movimento nas discussões. Três meses antes, em março, o movimento negro teve uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para vislubrar a criação de uma bancada antirracista no Congresso Nacional.

Segundo o professor da Uneafro Brasil, Douglas Belchior, o pacote anticrime e os decretos que pretendem viabilizar o acesso às armas são estratégias adotadas pelo governo Bolsonaro para viabilizar o genocídio da população negra.

“Nós precisamos mostrar ao mundo a radicalização do genocídio que estamos vivendo e essa vontade primitiva da elite brasileira de negar a existência do povo negro e só existe uma forma de fazer isso, nos matando”, sustenta.

Belchior afirma ainda que o movimento negro está disposto a lutar para reverter esse quadro. “Como diz Conceição Evaristo, nós combinados de não morrer.”.

Douglas Belchior- homem negro, vestindo camiseta e boné cinza- discursando com um microfone na mão esquerda
Douglas Belchior também é um dos articuladores das ações nacionais de incidência do movimento negro. (Foto: Pedro Borges/Alma Preta)

O alto índice de crimes com armas de fogos nas regiões rurais, com 99 assassinatos nos últimos dois anos, além do aumento de 350% na mortalidade de quilombolas são alguns dos dados apresentados pelos ativistas à CIDH.

De acordo com a integrante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), Selma Dealdina, o Estado legaliza os crimes ocorridos nas áreas rurais.

“É clara a intenção do governo em cumprir suas promessas de campanha, abrir os territórios quilombolas para especulação imobiliária e do agronegócio, além de apoiar o acirramento do conflito agrário que resulta em derramemento de sangue na luta do povo pela terra”, explica Selma.

Selma Dealdina- mulher negra, vestindo camiseta colorida- sentada discursando com um microfone na mão esquerda
Selma Dealdina é uma das articuladoras das lutas pela segurança das comunidades quilombolas. (Foto: Imagem Retirada do site Alma Preta)

Leia na íntegra o documento enviado pelo movimento negro à CIDH aqui.

+ sobre o tema

Conheça a House of Aama, marca que resgata a herança negra do Sul dos EUA

A House of Aama foi criada em 2013, mas apenas agora...

O filho brasileiro de Luther King

Por Igor Carvalho Dexter fala sobre a infância...

Raça humana pode ter nascido no sul da África, segundo descoberta

Fósseis de Australopithecus com 1,9 milhões de anos, encontrados...

Prefeitura de São Paulo abre inscrições para Amplifica Cine com aporte financeiro de R$42.500

A segunda edição do Amplifica Cine, uma iniciativa da...

para lembrar

Inspirado em filho adotivo, americano cria curativos para pele negra

Quando seu filho Kai machucou a testa, o americano...

Kalaf Epalanga: imigração, kuduro e literatura

Convidado da Flip, autor fala sobre 'Também os Brancos...

“Os heróis não se pareciam comigo”, diz Danai Gurira sobre o Pantera Negra

A atriz Danai Gurira, famosa por interpretar a Michonne...

“Adoro ser um ícone para outras meninas negras”, diz Taís Araújo

Taís Araújo, que está nos palcos vivendo a história...
spot_imgspot_img

Lenna Bahule apresenta novo EP no Sesc Bom Retiro nos dias 04 e 05 de outubro

A cantora e compositora moçambicana Lenna Bahule faz show de lançamento do EP Nadawi, segundo capítulo da trilogia sonora Kumlango. O público de São Paulo vai...

A cidade de Lima Barreto: obra do escritor é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio

Lima Barreto é autor do Rio. A frase soa óbvia, mas não se refere apenas ao fato de o escritor ser um legítimo carioca...

Clássico de Carolina Maria de Jesus será lançado em audiolivro na voz de Tatiana Tiburcio

Obra mais conhecida de Carolina Maria de Jesus, "Quarto de despejo" será lançado no fim deste mês em audiolivro inédito pela Supersônica na voz de...
-+=